VALIE EXPORT: Corpo=linguagem/ 14ª Mostra Itaú Vídeo/ Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, BH/ até 1º/05

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PROVOCAÇÃO
Valie se coloca na posição de mulher-objeto para atacar estereótipos sociais

Waltraud Lehner nasceu em Linz, Áustria, em 1940, e viveu em um convento até os 14 anos. Aos 27, ao viver a explosão da contracultura e do feminismo, decidiu, em um gesto performático, transformar-se em uma marca. VALIE EXPORT, em caixa alta, passou a ser sua alcunha. Segundo ela, assim como a marca de cigarros mais consumida na Áustria, a Smart Export, a mulher era tratada apenas como uma commodity. “A palavra EXPORT serve como uma metáfora para aquilo que quero fazer: exportar e transportar minhas ideias para o exterior”, afirma a artista, no Brasil para a montagem da exposição “VALIE EXPORT: Corpo=linguagem”, em Belo Horizonte, com curadoria de Berta Sichel e organização do Instituto Itaú Cultural.

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CORPO SÓ
A artista em ação no projeto “Body Configuration”

ISTOÉ – Certa vez você afirmou que, se as mulheres abandonassem maridos e crianças, estariam livres para desenvolver sua criatividade. Isso ainda se aplica?

VALIE EXPORT – Sim, a frase ainda é válida. Quando disse isso, nos anos 1970, as diferenças eram muito mais exacerbadas. Os homens passaram a ajudar, mas a ajuda ainda é da esfera financeira e eles ainda se veem como únicos provedores. Se a mulher não tivesse a maior parte da responsabilidade de cuidar dos filhos, poderia desenvolver mais livremente a sua criatividade.

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ISTOÉ – O que o feminismo significa para você hoje?
VALIE EXPORT – A igualdade de gênero ainda não existe. Principalmente no que diz respeito à remuneração econômica. O feminismo ainda luta pela colocação da mulher no mesmo patamar de igualdade e condição em relação ao homem. Só quando essa situação for alcançada é que se poderá discutir as diferenças.

ISTOÉ – Por que seu principal suporte de trabalho é o vídeo?
VALIE EXPORT – O uso da fotografia, do cinema e da pintura sempre foi feito por uma maioria masculina. Esses meios não são neutros. Existe uma contaminação no modo de usar e construir as linguagens pelo olhar masculino. O vídeo não tinha um histórico prévio e, nos anos 1970, se tornou uma ferramenta aproveitada pelas mulheres, na tentativa de construir uma linguagem própria.

ISTOÉ – E as novas mídias digitais também são neutras?
VALIE EXPORT – Sim, mas elas nos permitem uma liberdade ainda maior para a criação de outras identidades, livres dessa relação polarizada entre o olhar masculino e feminino.

ISTOÉ – Você sempre trabalhou o corpo como ferramenta de linguagem. Mas na série “Body Configuration” a cidade entra em questão. Como vê a relação entre corpo e cidade?
VALIE EXPORT – Em “Body Configuration”, o corpo aparece em relação a diferentes paisagens arquitetônicas de Viena. A escolha dos locais arquitetônicos foi feita de acordo com diferentes pe­ríodos históricos e políticos: A Viena medieval, a Viena do Império Austro-Húngaro e a Viena contemporânea. A ideia que está por trás desse trabalho é independente de o corpo ser masculino, feminino ou transexual. Trata-se da relação do corpo diante da paisagem urbana. 


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