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DIDÁTICO
Inspirado em suas idas e vindas pelo mundo, Sparks criou um colégio cujo lema é aprender viajando

O escritor americano Nicholas Sparks é um fenômeno editorial. Nascido no Estado de Nebraska, o autor de 45 anos é um habitué das listas dos mais vendidos pelo mundo afora. No Brasil não é diferente. Atualmente, quatro de seus livros estão entre os 20 mais procurados em todo o País. Inédito no Brasil, seu romance “Um Amor para Recordar”, que vendeu mais de cinco milhões de exemplares no Exterior e tem lançamento nacional marcado para maio, é o próximo candidato a best-seller. Fã de Stephen King, Sparks ganhou a preferência de seus leitores, a maioria do sexo feminino, ao optar pelo gênero romântico – ou, como ele próprio define seu trabalho, pelas “histórias de amor passadas em pequenas cidades e com personagens problemáticos, mas adoráveis”.

Além de fenômeno literário, Sparks é hoje uma garantia de salas de cinema lotadas, como prova o sucesso das versões filmadas de suas histórias, sempre estreladas por atores identificados com o seu estilo, como Rachael McAdams, Richard Gere, Miley Cirus e Channing Tatum, protagonistas, respectivamente, de “Diário de uma Paixão, “Noites de Tormenta”, “A Última Música” e “Querido John”. Alguns desses enredos foram vendidos diretamente para os estúdios de cinema, outros, produzidos por ele próprio. “É impossível prever que tipo de história será ou não transformada em filme. Por isso, tento não pensar nisso quando estou escrevendo”, disse Sparks em entrevista à ISTOÉ.

Além do romance, outro elemento que atrai nas tramas do autor é o sentimento religioso. Educado na Igreja Batista, ele acredita no poder da fé, mas procura não fazer pregações. O que não o impede de ver se multiplicar, à sua volta, um incrível número de seguidores. A webdesigner paulista Mari Frioli, 27 anos, presidente do fã-clube oficial do escritor no Brasil, tem uma teoria para o sucesso do autor por aqui: “As narrativas são muito próximas do dia a dia e trazem experiências pelas quais já vimos alguém passar. Isso aproxima e encanta quem as lê.” Sempre solícito, Sparks responde a dúvidas de fãs em seu Twitter e demonstra um bom domínio de outras línguas que não o inglês. “Ele é um autor consagrado que tem tempo para dizer um ‘oi’ aos leitores”, afirma Mari.

Mesmo quando aborda assuntos polêmicos, como as guerras no Iraque e no Afeganistão, pano de fundo de obras como “Querido John” (cujo protagonista é um soldado) ou “The Lucky One” (sobre um marinheiro, ainda inédito no Brasil), o autor prefere a neutralidade: “As pessoas tendem a aceitar os personagens militares, apesar das opiniões controversas sobre esses conflitos. Odeie a guerra, mas ame o soldado.” Sparks lê pelo menos 125 livros ao ano e não aprecia a literatura de viés político. Essa atitude “em cima do muro” não o impede de se posicionar socialmente. “Nunca escreveria sobre pornografia ou tentaria glamorizar o uso de drogas ou álcool”, diz o escritor, que entrou na carreira por acaso. Atleta na época da universidade, ele ficou imobilizado após machucar o joelho. “Minha mãe então me perguntou: por que você não para de reclamar e escreve um livro? Foi o que fiz.”

Com a prática, atualmente Sparks leva de cinco a seis meses para finalizar um romance e quando não está escrevendo, lendo ou correndo – suas atividades favoritas – cuida da escola que abriu há seis anos na Carolina do Norte. Chama-se Epiphany School e tem um método de ensino baseado na sua própria experiência de vida. “Por causa do meu trabalho, tive sorte de viajar pelo mundo e aprender algo novo em cada lugar onde estive”, diz. A partir dessa vivência, nas salas de aula do colégio os alunos aprendem história, economia e cultura visitando os países estudados. “Jovens que são educados com um forte senso global terão vantagem em relação aos outros”, explica o autor. Após quatro anos de high school (o ensino médio americano), os alunos terão passado por mais de 20 países diferentes. Sobre o Brasil, onde esteve em ­dezembro do ano passado, Sparks afirma: “Notei que muitos dos meus fãs são adolescentes e decidi que meu próximo romance será voltado para esse público.” Ele só não sabe quando entregará o livro para a editora: “Como acontece com a maioria dos escritores, eu detesto prazos.”

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Leia um trecho do primeiro capítulo do livro "Querido John" :

Meu nome é John Tyree. Nasci em 1977 e cresci em Wilmington, Carolina do Norte, uma cidade que ostenta orgulhosamente o maior porto do Estado, bem como uma história longa e vibrante, mas que hoje me parece mais uma cidade surgida por acaso. Certo, o clima é ótimo e as praias perfeitas, mas a cidade não estava preparada para a onda de ianques aposentados que vieram do norte em busca de um lugar barato para passar a melhor idade. Wilmington está localizada em um braço de terra relativamente estreito, delimitado de um lado pelo rio Cape Fear, e de outro, pelo oceano. A autoestrada 17 – que liga Myrtle Beach e Charleston – corta a cidade e serve de via principal. Quando eu era criança, meu pai e eu íamos de carro do centro histórico, perto do rio Cape Fear, à praia de Wrightsville em dez minutos, mas hoje existem tantos semáforos e shopping centers que a viagem chega a durar uma hora, especialmente nos fins de semana, quando os turistas inundam a cidade. A praia de Wrightsville, localizada em uma ilha ao largo da costa, está no extremo norte de Wilmington e, de longe, é uma das praias mais populares do Estado. As casas ao longo das dunas são absurdamente caras, e a maioria é alugada no verão.Outer Banks pode ter um apelo mais romântico por causa do isolamento, dos cavalos selvagens e do voo que fez a fama de Orville e Wilbur, mas, devo dizer, a maioria das pessoas que vão para o litoral em férias sente-se mais confortável quando encontra um McDonald’s ou um Burger King por perto, no caso de as crianças não gostarem muito da comida local, e quer mais do que um par de opções quando se trata de atividades noturnas.

Como qualquer cidade, Wilmington tem partes ricas e pobres. Meu pai tinha um dos empregos mais seguros e sólidos do planeta – ele fazia as entregas em uma das rotas dos correios – e nossa família vivia bem. Sem luxo, mas bem. Não éramos ricos, mas morávamos perto o suficiente da área rica para que eu frequentasse um dos melhores colégios da cidade.No entanto, ao contrário das casas dos meus amigos, a nossa era velha e pequena; parte da varanda estava começando a cair, embora o jardim mantivesse seu charme. Havia um grande carvalho no quintal, e, quando eu tinha oito anos, construí uma casa na árvore com pedaços de madeira que recolhi em um canteiro de obras. Meu pai não me ajudou com o projeto(se ele acertasse um prego com um martelo, isso poderia honestamente ser chamado de acidente); nesse mesmo verão, aprendi sozinho a surfar. Suponho que deveria ter percebido nessa época como era diferente de meu pai, mas isso só demonstra o quão pouco se sabe da vida quando se é garoto.

Nós éramos totalmente diferentes um do outro. Enquanto ele era sedentário e introspectivo, eu estava sempre em movimento e odiava ficar sozinho; ele dava muito valor à educação; para mim, a escola era um clube para socializar e praticar esportes. Ele tinha má postura e andava de um jeito meio estranho; eu saltava de um lado para outro e pedia o tempo todo para que ele marcasse quanto tempo eu levava para ir até o fim do quarteirão e voltar. Fiquei mais alto do que ele no oitavo ano, e o derrotaria no braço de ferro no ano seguinte. Nossas feições também eram completamente diferentes. Ele tinha cabelos ruivos, olhos castanhos e sardas; eu, cabelos e olhos castanhos, e minha pele morena ficava profundamente bronzeada já em maio. Alguns de nossos vizinhos estranhavam o quanto éramos diferentes, o que fazia sentido, suponho, considerando que ele me criou sozinho.


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