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COMPANHEIROS
José Guerra (Claudio Lins, à esq.) e Maria Paixão (Graziela Schmidt) na sede da UNE

José Guerra e Maria Paixão seriam apenas mais um casal apaixonado se não tivessem trocado olhares pela primeira vez durante o incêndio na sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro, no dia 1º de abril de 1964 . O par romântico, interpretado pelos atores Graziela Schmidt e Claudio Lins, está à frente do elenco de “Amor e Revolução”, a novela do SBT que, há uma semana no ar, causa polêmica entre espectadores, críticos e militares. Sem delongas, o autor Tiago Santiago mostra o lado mais obscuro da repressão política: a tortura. E prova que o tema ainda se mostra um tabu.

“Amor e Revolução” estreou com o desafio de ser a primeira a retratar os “anos de chumbo”. Sua trama se inicia em janeiro de 1964, dois meses antes do golpe militar que instaurou uma ditadura de 21 anos no Brasil. Aí se dá a primeira discórdia. Uma célula de esquerda reúne-se no interior de São Paulo e discute como organizar a luta armada no País. Seus militantes são surpreendidos e assassinados por um grupo de “caça aos comunistas”. A ex-presa política Maria Amélia Teles, que ofereceu um workshop no SBT, acha que a cena não condiz exatamente com o acontecido. “Naquele período anterior à ditadura, as pessoas eram tratadas de maneira até civilizada”, diz ela. Apesar da ressalva, Maria Amélia está satisfeita com o resultado: “A novela é estereotipada e mistura muita coisa. Tecnicamente é sofrível, mas sua denúncia caminha num bom ritmo.”

Outra passagem que provocou discussões é a forte sequência de tortura do casal Odete e Carlo, vividos por Gabriela Alves e Marcos Breda. Eles sofrem choques elétricos, afogamentos e apanham no pau-de-arara. O historiador Augusto Buonicore confirma que a tortura foi uma realidade já nos primeiros dias da ditadura: “No interior do País, principalmente. E Gregório Bezerra é um caso conhecido. Mas de fato a repressão se organizou mesmo em 1969, depois do AI-5.” Resta saber o que Tiago Santiago reserva para os 180 capítulos previstos da telenovela. Ele adiantou à ISTOÉ que a história deve ir até a “Guerrilha no Araguaia” (1970-1974). E pede tempo. “Acabamos de estrear”, afirma. O alvoroço só começou: um grupo de militares já se posicionou, por meio de um abaixo-assinado, contra a exibição do folhetim.

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