Até ontem, o apelido era Ronalducho. A partir de agora, é melhor chamá-lo de Ronaldula. O "gordo" tem um time que joga em função dele, manda mais do que o técnico, conta com juízes quase sempre amigos e sua torcida é fanática – dizem até que a oposição já foi cooptada e que os torcedores dos times adversários andam comemorando seus gols. E quando alguns o chamam de "acabado", eis que o "Fenômeno" ressurge ainda mais forte.

Se o Ibope tivesse feito uma sondagem na semana passada, depois do título do Corinthians, Ronaldo apareceria à frente do presidente Lula na lista dos homens mais populares do Brasil. Os dois, no entanto, têm histórias paralelas.

Na final da Copa de 1998, quando o Brasil inteiro torcia por ele, Ronaldo surtou antes do jogo com a França. As más línguas dizem que amarelou diante de Zidane. Na disputa eleitoral de 1989, Lula também viveu sua convulsão no dia do histórico debate contra Fernando Collor. Passaram-se alguns anos e ambos deram a volta por cima. Na Copa de 2002, Ronaldo foi o artilheiro. No mesmo ano, Lula chegou ao poder. Mas, como a vida não caminha sempre em linha reta, o Fenômeno viveu novos pesadelos e arrebentou seus dois joelhos.

Lula teve o escândalo do Mensalão e foi obrigado a substituir vários jogadores para também não sair expulso de campo. Estrelas que são, os dois já andaram trocando caneladas. Na Copa de 2006, Lula perguntou ao técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira, se Ronaldo estava gordo. O centroavante deu um chega-pra-lá no presidente com estilo. "Dizem que ele também bebe demais", retrucou.

Mas agora ambos estão felizes e saboreiam suas novas vitórias. Ronaldo é uma unanimidade e ainda veste a camisa do time do coração de Lula, que assiste a tudo da arquibancada com 70% de popularidade. Os dois andam tão cheios de si que fazem o que bem entendem, pairando acima do bem e do mal. Ronaldo é garoto-propaganda de uma marca de cerveja, coisa que só jogadores mitológicos como ele podem se dar ao luxo de fazer.

Lula, que aos poucos se converte em dono do Brasil, começa a tirar do armário seu plano para se perpetuar no poder, ciente de que não tem mais adversários. Não se sabe quem tem mais barriga, quem bebe ou não, mas se há alguém que realmente merece um terceiro mandato, seu nome é Ronaldo.