É cada vez maior o número de ações sociais que surgem com o objetivo de proporcionar um pouco de conforto e bem-estar a milhares de brasileiros que vivem em condições muito aquém do mínimo que um ser humano necessita. Por iniciativa de grupos voluntários, instituições ou empresas, em todo o País, esses trabalhos se multiplicam, fortalecendo a idéia de que só com o envolvimento da sociedade é possível transformar a realidade desses brasileiros. Em busca dessa mudança, vale tudo. Shows, almoços beneficentes e até uma competição automobilística são motivos para despertar o espírito solidário. Foi motivado por isso que uma equipe de pilotos e mecânicos da Mitsubishi, que há seis anos participa do Rally dos Sertões – maior prova off-road da América Latina –, decidiu criar o projeto Mitsubishi Racing Pro Brasil, com o objetivo de ajudar as comunidades pobres situadas no roteiro da prova.

O resultado dessa iniciativa foi apresentado na segunda-feira 18, em
São Paulo, durante a festa de premiação dos vencedores. De acordo
com os organizadores, foram distribuídas 60 toneladas de alimentos, material escolar e produtos de higiene para milhares de pessoas que vivem em comunidades situadas entre os Estados de Goiás, onde se iniciou a competição, além de Tocantins, Piauí e Maranhão. “Isso
pode não resolver o problema, mas certamente vai fazer diferença
para quem não tem nem o que comer”, acredita Guilherme Spinelli,
piloto vencedor da prova.

O que era só a vontade de uma equipe ganhou a simpatia da empresa
e se transformou em um grande projeto social, que envolveu, além de funcionários, pelo menos 15 voluntários. A empresa disponibilizou três picapes L200 Evolution, além de três caminhões cedidos pela Real Cargas parceira do projeto. Outras empresas, como Pirelli, Pfizer, Bic Banco e Castrol, também contribuíram para a consolidação desse trabalho. “O desejo de participar de um trabalho social é antigo. Numa conversa com a equipe, eles falaram da pobreza que assola a vida das pessoas que vivem nas regiões que fazem parte do roteiro dessa prova. Então, decidimos fazer algo que pudesse ajudar a amenizar o drama daquela gente”, conta o campeão da Stock Car Ingo Hoffmann, que participou pela primeira vez.

A iniciativa entrou de vez para o calendário da Mitsubishi e estará nas próximas edições do Rally dos Sertões. “Fazemos há alguns anos um trabalho de arrecadação de alimentos em outras competições que realizamos, mas nada se compara ao que foi feito nos Sertões. Esse trabalho envolveu e comoveu muita gente. A vontade de repetir é de todos”, afirma Patrícia Poli, gerente de marketing da Mitsubishi.

Voluntariado – O sucesso dessa primeira experiência convenceu não
só os patrocinadores como também os voluntários, entre eles médicos, pedagogas e empresários, além de familiares dos pilotos, que trabalharam na distribuição dos donativos. “Ainda não tinha vivido algo tão real. A miséria choca. Em algumas casas não tinha nenhum móvel, nem mesmo uma cadeira. As crianças dormiam no chão de terra e os pais em redes.
O mais interessante é que, apesar da pobreza, não havia tristeza em seus rostos e nem sequer reclamavam da situação. Pelo contrário, estavam sempre sorrindo”, conta o empresário paulista Valmir Ross
de Benavides, coordenador do projeto. Dono de uma rede de lojas na capital, Benavides não pensou duas vezes quando recebeu o convite do amigo Ingo Hoffmann para se juntar à equipe de voluntários. “Almejava fazer algo dessa natureza, mas faltava oportunidade. Tirei uns dias
de férias e fui com a minha família para essa missão”, conta ele, que levou a mulher e os filhos.

Nesse cenário de miséria, várias situações chamaram a atenção dos voluntários: o número de meninas com apenas 15 anos que são mães, a quantidade de crianças nas famílias e a facilidade de se “adotar” esses pequenos. Muitas mães chegam a oferecer os filhos para os visitantes. “Encontramos uma moça de 22 anos que tinha seis filhos. Em outra casa, uma adolescente de 15 anos com duas crianças. É inacreditável. Não existe informação, não há nenhum apoio do governo para essas jovens mães nem para as famílias. A maioria das casas tem até dez crianças”, conta a pedagoga Marlene Benavides, mulher do empresário Valmir.

“Impossível ficar indiferente diante de uma realidade como a que presenciamos. Oferecer um pirulito a uma criança e esta não saber
o que fazer para comê-lo é comovente. Depois do que vivi lá passei
a ver as coisas sob outra ótica. Se tiver oportunidade irei outra vez”, conclui. Pela disposição e boa vontade dos voluntários que passaram
dez dias na estrada, personagens para os próximos capítulos dessa
cena brasileira não vão faltar.