img1.jpg
A jovem que não faltava aos cultos dominicais
Larissa dos Santos Atanásio, 15 anos
Esperta, teimosa, engraçada. Definitivamente, Larissa dos Santos Atanásio, 15 anos, não fazia o estilo menina quietinha. Apesar disso, era muito querida, pois cativava a todos com seu jeitinho simpático. “Ela era muito inteligente e inquieta, mas também bastante religiosa”, elogia a prima Daniele Azevedo. “Ia todos os domingos ao culto da Igreja Presbiteriana.” Esse pendor religioso da família talvez seja um dos poucos alentos para tentar superar a tragédia de perder a jovem, uma das vítimas do massacre da escola de Realengo. Depois de passar várias horas no Hospital Albert Schweitzer, somente no início da tarde da quinta-feira 7 os parentes receberam a confirmação de sua morte. Em meio à tristeza, tiveram a iniciativa de doar o tecido ósseo e as córneas da menina. “Pelo menos nossa dor pode servir para amenizar o sofrimento de outros”, explicou Daniele, que ficou surpresa ao notar que na lista de crianças assassinadas na escola Tasso da Silveira havia uma menina homônima à sua prima Larissa. Mais tarde, Daniele iria descobrir uma outra – trágica – coincidência. A outra também era sua prima.

img.jpg
O primeiro ano na Tasso da Silveira
Samira Pires Ribeiro, 13 anos
A dificuldade em localizar a filha, Samira Pires Ribeiro, 13 anos, dava esperança ao pai da menina, José Carlos Ribeiro, 59 anos, de que ela tivesse escapado com vida do massacre na Escola Tasso de Oliveira, onde cursava o sexto ano. Ribeiro procurou pela garota nos hospitais e no Instituto Médico Legal desde que soube por vizinhos do massacre na escola, mas seu estado emocional e os danos sofridos pela garota – baleada na cabeça, ficou com o rosto desfigurado – não permitiram que ele pudesse identificá-la através das fotos do cadáver que lhe eram mostradas. Até que uma das irmãs de Samira, Valéria, reconheceu a menina. “Estamos todos muito mal, em estado de choque, acabei de ver a foto da minha irmã morta”, disse Valéria, aos prantos. Samira começou a estudar na Tasso da Silveira neste ano e costumava dizer que estava adorando a escola. “Ela era muito animada, era a nossa alegria. Mal acredito que isso tenha acontecido”, lamentou o pai da garota.

img9.jpg
A morte nos braços do pai
Laryssa Silva Martins, 13 anos
“Quando eu morrer você vai sentir minha falta?” A pergunta foi postada por Laryssa Silva Martins, 13 anos, em sua página no Orkut, dirigindo-se a uma colega, um dia antes de ela ser assassinada com um tiro na cabeça. “Parece que estava adivinhando”, comentou o tio da menina, Aldo Guilherme. Essa Laryssa, assim como a homônima, era também prima de Daniele. “Tinha pouco contato com ela, não sabia que estava entre as vítimas. Só descobri quando vi a lista”, contou, lamentando a coincidência de ter duas parentes vítimas da mesma tragédia. O corpo de Laryssa foi encontrado pelo próprio pai, Clóvis Martins, que ainda tentou socorrê-la, mas foi em vão, pois a menina morreu em seus braços. Diante de uma tristeza tão grande, Clóvis não resistiu e teve um princípio de infarto. Depois de atendido e restabelecido, ele passou a repetir uma frase que traduz seu desespero pela morte da filha: “Meu nome agora é defunto.”

img11.jpg
Uma gêmea ferida. Outra, morta
Bianca Rocha Tavares, 13 anos
O vigilante Jaderson Barbosa, 24 anos, passava perto da Escola Tasso da Silveira quando foi surpreendido por uma criança que corria ensanguentada em sua direção. Era Brenda Rocha Tavares, 13 anos, que tinha sido alvejada nos braços e no rosto. Imediatamente, Barbosa parou um carro que estava passando e levou a menina para o hospital. “Ela dizia: ‘Ele deu um tiro na cabeça da minha irmã.’” Graças à ação do vigilante, Brenda foi salva. Infelizmente, sua irmã gêmea Bianca morreu. Os pais estão em estado de choque. Mesmo assim, aceitaram que o tecido ósseo de sua filha fosse retirado para doação. “Logo depois que chegamos ao hospital, outras vítimas começaram a aparecer. A cena foi chocante, parecia um hospital de guerra”, contou Barbosa, que ainda tinha marcas de sangue na camisa. Caseira, Bianca gostava de navegar pela internet e também ajudar sua avó nas tarefas caseiras. Na noite de quinta-feira, a menina Brenda foi operada e seu estado inspirava cuidados.

img7.jpg
Baile de debutantes preparado
Luiza Paula da Silveira, 14 anos
Alegre e bem-humorada, Luíza Paula da Silveira, 14 anos, era fã da cantora Ivete Sangalo. Vaidosa e muito animada, sonhava em ser modelo e já planejava com amigos e parentes sua festa de 15 anos, em setembro. A mãe já havia reservado e começado a pagar um salão para a data. Muito apegada à família, gostava de assar rosquinhas com a avó. Transtornados, os pais de Luiza foram sedados pouco depois de saber da tragédia.

img6.jpg
O sonho de desfilar nas passarelas
Mariana Rocha de Souza, 13 anos
O sonho de Mariana Rocha de Souza, 13 anos, era o mesmo de tantas adolescentes de sua idade: desfilar nas passarelas como modelo. A garota de 13 anos usava vários tipos de maquiagem, passava horas à frente do espelho e sempre fazia caras e bocas quando encarava as lentes. Por uma trágica coincidência, foi através de uma foto que os parentes da menina reconheceram seu corpo entre as vítimas fatais do atirador de Realengo. “Minha filha saiu para ir à escola e acabou morta. Como acontece uma coisa dessas?”, gritava a mãe da menina, Noeli Rocha, à saída do Hospital Alberto Schweitzer. Aos prantos, ela teve que ser amparada por parentes. “Não é possível viver tranquilo num país onde nem dentro da escola nossos filhos têm segurança.” Mariana levou um tiro no ouvido e Noeli não teve forças para olhar
a foto da adolescente no hospital. Ela foi reconhecida pelo tio, Luiz.

img10.jpg
A garota que treinava para ser atleta olímpica
Karine Lorraine Chagas de Oliveira, 14 anos
“Bença, vó.” As últimas palavras que ouviu de Karine Lorraine Chagas de Oliveira, 14 anos, ainda ecoavam nos ouvidos de dona Nilza Candelária da Cruz, 63, no Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro, onde aguardava a liberação do corpo da neta, assassinada com um tiro na testa. Mais do que avó, dona Nilza era praticamente mãe da menina, que morava com ela desde os 4 anos, quando os pais se separaram. Aluna da turma 1801 da Tasso da Silveira, Karine queria ser atleta olímpica. “Ela treinava salto na Escola de Formação da PM”, lembrava dona Nilza, que doou as córneas da neta. “Tinha o quartinho dela, mas dormia na minha cama toda noite. Não sei o que vai ser daqui pra frente.”

img2.jpg
A filha que mais gostava de estudar
Milena dos Santos Nascimento, 14 anos
Sem conseguir conter as lágrimas, Valdir Nascimento reconheceu através do vidro o corpo da filha que estava sobre uma maca de alumínio do Instituto Médico Legal. “É ela mesma, doutor. É o amor da minha vida, deixa eu dar um beijo nela”, pediu ele ao diretor da instituição, Sérgio Henriques. Apesar do apelo, o pai não teve permissão para se aproximar do cadáver da filha, Milena dos Santos Nascimento, 14 anos, uma das vítimas do massacre de Realengo. Nas conversas em família, Milena não economizava elogios à Escola Municipal Tasso da Silveira, onde cursava o sexto ano. “Ela adorava a escola. Sempre falava bem dos professores e dos colegas de classe, não tinha faltado um dia neste ano”, contou o pai da menina, sem disfarçar o orgulho que sentia pela filha que mais gostava de estudar. Depois de percorrer três hospitais atrás de notícias da adolescente, até então desaparecida, Nascimento localizou o corpo no IML. As duas outras filhas, que estudam na mesma escola, escaparam ilesas.

img8.jpg
Ela queria entrar para a Marinha
Géssica Guedes Pereira, 15 anos
A caminho da Escola Tasso da Silveira, ao lado de sua melhor amiga Bruna Marques, a estudante Géssica Guedes Pereira, 15 anos, mostrava-se feliz na manhã da quinta-feira 7. Comentava sobre o bom desempenho que imaginava ter alcançado na prova de história, feita no dia anterior. “Ela disse que estava bem, aliviada”, conta Bruna, vizinha e colega de escola. Poucas horas depois, Géssica seria assassinada com tiros na cabeça. O pai, Bento, e a mãe, Suely, estavam muito abalados e a irmã, Michelle, 18 anos, era uma das que mais choravam. “Vou sentir muito a falta dela”, lamentou. “Achei que ia ver um dia Géssica se formando como oficial da Marinha, como ela queria, mas isso não vai acontecer.” Michelle é ex-aluna da escola e criticou a facilidade com que o atirador entrou. “Quando fui buscar meu histórico, me barraram, não passei do portão. Agora, um sujeito desses entra com a maior tranquilidade.”

img5.jpg
Hábitos caseiros e gosto pela informática
Rafael Pereira da Silva, 14 anos
Apesar de ter escolhido como alvos preferenciais as meninas, o assassino Welington acertou um tiro na cabeça de Rafael Pereira da Silva, 14. Foi mortal. “Ele era meu amigo, um cara muito legal”, diz o colega de sala Mateus Moraes, 13 anos. Segundo a família, o menino tinha hábitos caseiros e sonhava em trabalhar com informática. Rafael era filho adotivo do instalador de som Carlos Maurício Pinto, que soube da tragédia pela filha mais nova, 11 anos – que também estuda na escola, mas escapou do massacre. A menina estava com dor de garganta no dia da tragédia e levou o celular para o colégio para o caso de ter de se comunicar com o pai. Rafael fora adotado com poucos dias de vida pela sogra de Carlos. Quando o garoto tinha 5 anos, ela faleceu e pediu que o genro cuidasse da criança.

img3.jpg
A mais alegre da casa
Ana Carolina Pacheco da Silva, 13 anos
No final da tarde da quinta-feira, quando praticamente todas as vítimas do massacre de Realengo estavam identificadas, Ana Luiza Pacheco da Silva, 42 anos, ainda não havia localizado sua filha, Ana Carolina. Como fazia todos os dias, ela fora para a escola. Depois da ação do assassino que entrou nas salas de aula atirando, ninguém mais soube dela. “Uns disseram que viram quando ela desceu as escadas correndo; outros dizem que viram seu corpo no chão, com um tiro no pescoço”, relatava a mãe, angustiada. O pai, Raimundo, tinha percorrido vários hospitais e casas de pessoas que moram perto da escola, sem conseguir nenhuma notícia. No início da noite, veio a confirmação: Ana Carolina, 13 anos, estava morta. Era uma criança extrovertida, considerada por seus quatro irmãos como a mais alegre da casa. O corpo foi identificado no Instituto Médico Legal pelo pai. Só então, a mãe, Ana Luiza, deixou transbordar a angústia que tinha no peito e chorou.

img4.jpg
Angústia prolongada
Igor Moraes da Silva, 13 anos
A angústia da família de um dos estudantes mortos foi a mais prolongada na quinta-feira trágica. Décima segunda e última vítima fatal a ser confirmada no próprio dia da tragédia, Igor Moraes da Silva, 13 anos, foi um dos dois meninos mortos pelo atirador. Ele passou a tarde internado em estado grave no Hospital Albert Schweitzer, mas não conseguiu sobreviver – somente pouco depois das 21 horas a Secretaria de Saúde confirmou sua morte, no Hospital Adão Pereira Nunes. Em meio à dor, os familiares pretendiam doar as córneas da criança. Até a tarde da sexta-feira 8, o pai, que há anos não tem contato com a família, não aceitava assinar a autorização.

 

 

Leia todas as reportagens do especial sobre a tragédia no Rio

"Virem para a parede, vou matar vocês"

O medo cada vez mais cedo

O que aconteceu naquelas salas de aula

Menino solitário, adulto perturbado