Ninguém assume explicitamente porque ainda é muito cedo, mas, faltando três anos para a eleição, o primeiro lance da próxima sucessão presidencial foi dado pelo PMDB na terça-feira 19. Dezenas de parlamentares se acotovelaram no espaço cultural da Câmara para prestigiar o desembarque do ex-candidato Anthony Garotinho no partido. Com ele vieram a atual governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus, o vice, Luiz Paulo Conde, 12 deputados federais, 13 estaduais e 43 prefeitos ligados ao ex-governador. Com isso o PMDB se tornou o segundo maior partido da Câmara, com 78 deputados. “Claro que ele é uma alternativa para disputar a Presidência, mas, como ainda estamos longe, não se
firmou nenhum compromisso nesse sentido”, avisou um alto dirigente peemedebista, lembrando que, em 2002, Garotinho beliscou 15 milhões
de votos dentro do claudicante PSB. “Não há acordo para eu ser candidato, mas também não há veto. Esse é um assunto para ser decidido depois”, sentenciou Garotinho.

O Palácio do Planalto – mesmo com a contemporização alardeada pelos líderes do PMDB de que o novo Garotinho Paz e Amor seguiria as orientações dos atuais caciques governistas do partido – teme que as críticas do ex-governador à gestão Lula ganhem eco dentro do partido. Para o PMDB, a filiação traz mais do que deputados novos. O calendário foi todo acertado com a direção nacional e está sendo usado para pressionar o governo a abrir as portas ministeriais para o partido. O chefe da Casa Civil, José Dirceu, tentou barrar o ingresso de Garotinho através do governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, numa ligação, na sexta-feira 15, em que se dizia “preocupadíssimo”. A ação via Luiz Henrique não prosperou e na segunda-feira 18, quando Garotinho anunciava oficialmente que vestiria a camisa do PMDB, o mesmo Dirceu ligou para o senador Renan Calheiros (AL) num último gesto para melar a filiação. “O partido não tem tradição de veto e se tratou de uma iniciativa do próprio Garotinho”, respondeu Renan.

Insatisfação – Na mesma segunda-feira à noite, quando os líderes do PMDB foram chamados para mais uma rodada de conversas sobre reforma ministerial, Dirceu foi sincero: “O governo pode não ter gostado, mas isso não afeta a relação com o PMDB.” Dito isso, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), sugeriu que fosse iniciada a discussão de nomes do PMDB para o Ministério. Ficaram de marcar uma reunião entre a cúpula do partido e Lula para definir, de uma vez por todas, o espaço que o PMDB terá no governo. “A base no Senado está insatisfeita. Mais dez dias e não haverá líder que consiga reverter posições contra o governo”, desabafou Renan. Até o discreto ministro Antônio Palocci, temeroso que o ambiente político contamine as reformas no Senado, resolveu transitar na seara política. Ligou para o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), na quarta-feira 20, para sondar os ânimos peemedebistas. “Quero ajudar nisso”, disse Palocci sobre a reforma ministerial. “O ritmo e a decisão são de vocês”, respondeu Temer, tranquilizando o ministro. Quanto a Garotinho, ele sabe que a administração de sua mulher depende de um bom entendimento político com o Planalto, mas não pretende abandonar, por agora, a idéia de ser candidato à Presidência pelo PMDB.