A quem interessava o fim de José Nelson Schincariol, 60 anos, é a pergunta que se repete. A polícia não respondeu ainda se o empresário foi vítima de assalto ou de execução. Se tentou reagir ou se foi morto por encomenda. As incógnitas são muitas e o mistério persiste. Sócio majoritário da cervejaria Schincariol, ele foi atingido com três tiros dentro da garagem de sua casa, em Itu, a 103 quilômetros da capital paulista. Na segunda-feira 18, cumpriu a rotina de sempre: trabalhou até tarde, deixando a empresa por volta das 22h30. Sem motorista e sem guarda-costas, pegou seu Audi prata e foi direto para casa. Em frente ao sobrado de muros baixos, num bairro simples da cidade, acionou o controle remoto dos portões eletrônicos e entrou na garagem. A morte se anunciava quando dois homens o abordaram. A polícia também não sabe dizer se eles entraram quando o empresário abriu o portão ou se já estavam na garagem, à espreita. Os vizinhos ouviram cinco tiros. Três acertaram em cheio o empresário – dois na cabeça e um nas costas. O alarme da casa disparou e os bandidos pularam o muro lateral, fugindo a pé, sem levar nada. A mulher de Nelson, Cecília Ivani, e um dos filhos dele, Alexandre, encontram o empresário ainda vivo. Nelson morreu horas depois em São Paulo, no hospital Albert Einstein.

Mais perguntas sobre o caso Schincariol se acumulam. Amigos, familiares e até vizinhos questionam o porquê de assassinar um homem considerado simples e querido na cidade onde vivia. Nelson, para muitos, era uma pessoa generosa, que distribuía cestas básicas, remédios e aparelhos ortopédicos para famílias carentes. A Guarda Civil Metropolitana de Itu prendeu o garçom Valdinei Sabino da Silva, 25 anos, como suspeito, mas a família Silva, que mora na periferia do município, garante que ele é inocente. O caso passou às mãos do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa de São Paulo (DHPP), que corre atrás de provas para justificar a prisão do garçom. Valdinei está impedido de dar entrevistas e de falar com a família. O DHPP pediu à Justiça que decretasse o sigilo no inquérito e a prisão temporária por 30 dias. Valdinei foi detido porque uma das três testemunhas o reconheceu como um dos assassinos. Essa testemunha contou à polícia que viu Valdinei pular o muro da casa do empresário e fugir com uma arma na mão. As características do garçom, no entanto, não coincidem com as mesmas oferecidas à polícia pelas outras duas testemunhas. Segundo elas, os dois homens que mataram
o empresário eram brancos. Valdinei, que tem passagem na polícia por
porte ilegal de arma, é negro.

Violência – A mãe de Valdinei, a pensionista Lourdes Marques da Silva, 56 anos, pede justiça e acusa a polícia de agir de forma arbitrária e truculenta. “Sem autorização, entraram na minha casa, quebraram as minhas coisas, reviraram tudo atrás de uma arma e levaram meu filho. Ele é inocente e estava em casa na hora do crime”, assegura Lourdes. Enquanto a polícia – que não encontrou arma alguma – se fecha em copas e não apresenta aquele que seria o segundo homem do caso Schincariol, amigos e conhecidos do empresário afastam a possibilidade de um crime movido a vingança: “Não acredito em teorias conspiratórias. Ele disse várias vezes que não tinha medo de assalto, que reagiria se fosse vítima de roubo”, lembra Herbert Steiner, dono de um restaurante frequentado pelo empresário há mais de 20 anos. O prefeito de Itu, Lázaro Piunti, sem partido, também reza na mesma cartilha. Acredita que a morte do empresário é resultado da insegurança pública: “Nos últimos tempos, o número de roubos e assaltos a residências aqui aumentou consideravelmente.” O prefeito, no entanto, discordava dos métodos sociais do empresário: “Depois que a pessoa morre, é comum ela virar santa. Nelson, embora tivesse qualidades, também tinha defeitos. Um deles, por exemplo, era o de nunca fazer parceria com a prefeitura em projetos sociais. Preferia ajudar os pobres do seu jeito”, afirma Piunti.

De uma pequena fábrica de bebidas que pertencia a seu pai, Nelson fez da Primo Schincariol Indústria de Cervejas e Refrigerantes uma das principais empresas de bebidas do País. Ela emprega seis mil funcionários e detém 10% da fatia do mercado nacional. Polêmico e ousado, queria mais. Tinha planos de, nos próximos cinco anos, transformar sua cerveja em líder na categoria de garrafas de 600 ml e colocar a marca na terceira posição no ranking geral. Hoje, ela é a quinta cerveja mais vendida do País. A morte de Nelson comoveu a cidade. Cinco mil pessoas acompanharam o enterro do empresário na terça-feira 19 e a maioria continua se perguntando o motivo para um crime tão brutal. Violência simplesmente? Eis a questão.


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