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Editorial.jpgApreensivos, os brasileiros voltaram a falar sobre novas mudanças, ou não, nas regras da caderneta de poupança. Muitos esperam pelo pior e relembram antigos pesadelos que imaginavam varridos do mapa. Registre-se, inicialmente, que esse instrumento é uma das maiores conquistas nacionais. Nenhum país do mundo tem uma ferramenta de reserva financeira tão eficaz e de credibilidade tão prolongada – sobrevivendo inclusive a pragas fortes da economia nativa, como a hiperinflação que deitou raízes por essas bandas tempos atrás. Sempre se falou que a poupança do brasileiro era sagrada e que nela ninguém mexe. Mas eis que, mais uma vez, essa crença começa a ser abalada. Os que estão discutindo eventuais reformas parecem esquecer que há uma diferença fundamental nos conceitos de poupador e investidor. O primeiro faz uma reserva à custa de muito sacrifício, planejando uma estabilidade na sua vida futura. O segundo entra e sai de aplicações em busca de um lucro rápido e gordo para as suas movimentações financeiras. O governo dá sinais de que vem confundindo poupador com investidor. Para ele, só quem tem entre R$ 5 mil e R$ 20 mil depositados está na primeira categoria. Não é razoável supor que o sujeito que passou a vida inteira aplicando um pouquinho e juntou um volume de recursos maior, às vezes R$ 100 mil ou R$ 200 mil, para lhe garantir um mínimo de ganho mensal – caso de muitos aposentados que hoje vivem da pequena renda de suas poupanças – possa estar na condição de voraz tubarão dos investimentos. Nem mesmo aquele brasileiro que vendeu seus bens – uma casa, um carro – e guardou o dinheiro merece tal pecha. Com rendimento na faixa de 6% ao ano, a caderneta mal paga um salário mínimo por mês para quem conseguiu poupar R$ 100 mil, por exemplo.

Não é definitivamente um patamar de lucro que encha os olhos dos grandes investidores.

A poupança tem um papel didático vital: ela ensinou os brasileiros a guardar dinheiro, a planejar, mesmo nos tempos difíceis da carestia que corroía a moeda. A poupança tem, antes de tudo, uma missão social insubstituível. Foi ela que viabilizou o sonho da casa própria de muitos brasileiros. Está sendo ela a alternativa daqueles que não conseguiram o benefício da previdência pública. Então como é que essa mesma caderneta pode virar alvo de casuísmos para atender aos interesses insaciáveis dos grandes fundos de investimento? Trata-se de um monumental retrocesso mexer nesse instrumento para baixar rendimento. As autoridades monetárias equivocam- se ao falar de meros ajustes. O nome da tungada de agora é diferente, mas o objetivo, guardadas as proporções, é o mesmo do confisco lá de trás. A questão que fica: vale para o governo o risco político dessa virada? O último mandatário que fez essa opção não ficou no lugar para ver o final da história.


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