Sua aparição soa até como extravagância. Pois em meio a uma profusão de homens belos, sarados e seminus, quem brilha de verdade na novela global das sete, Kubanacan, é uma dona-de-casa romântica. Lola, a personagem de Adriana Esteves, consegue chamar a atenção mesmo contracenando o tempo inteiro com bonitões do tipo de Marcos Pasquim, Vladimir Brichta e Humberto Martins. Na verdade, são
dois os componentes principais do sucesso
da atriz. Um é a composição de Lola, mãe de família dedicada e inquieta, que adora cozinhar
e lavar as roupas do marido e dos filhos, mas
que não hesita no adultério para viver uma grande paixão – a duplicidade rende ótimas
cenas de humor nonsense. O outro é o talento de Adriana, uma especialista em mesclar drama
e comicidade ao fazer da mocinha uma eventual vilã, e vice-versa, sem jamais perder a ternura. Basta lembrar a Amelinha de Coração de estudante (2002), a Catarina de O cravo e a rosa (2000) ou a Sandrinha de Torre de Babel (1998), figuras que oscilam entre bondade, safadeza, cinismo e inocência.

Adriana vem se mostrando arrebatadora e quem dá o aval é o autor de Kubanacan, Carlos Lombardi. “Ela tem um exercício para a comédia que pouca gente tem. Mas o principal é a mistura de talento e inteligência.
É isso que faz da sua Lola um dos seus melhores trabalhos.” No folhetim das sete, a atriz também comete uma nova audácia: canta em cena. Tem voz? Hum… Dificilmente poderia sobreviver como cantora, mas não chega a aterrorizar. “Encontrei umas senhoras que me elogiaram”,
anima-se ela, que iniciou na carreira artística como apresentadora do programa Evidência, da Rede Bandeirantes, em 1988. “Era sobre variedades, música, esportes. Fiquei só três meses”, lembra. O rumo mudou quando soube que a Rede Globo estava testando jovens para apresentar um quadro no Domingão do Faustão. Resolveu tentar,
mas a atração não vingou.

Sorte – Como a sorte estava a seu lado, o diretor José Bonifácio Filho, o Boninho, e o produtor Alexandre Lannes lhe arrumaram um teste para a novela Top model (1990). “Aí, estreei na carreira.” Antes teve uma rápida experiência como modelo, da qual não ficou nem a vaidade. “Sou discretinha”, confessa Adriana, adepta do jeans e camiseta e maquiagem zero. “Batom, tenho pavor. Mas guardo meus segredinhos”, diz, serelepe, sem revelá-los. Ela ainda deve manter outros segredos, porque em 13 anos de profissão conseguiu fazer 13 personagens na televisão, quatro peças de teatro e três filmes. O teatro é a grande paixão, mas a tevê é sua preferência assumida. “Foi onde descobri meu prazer de atuar.” Nem as duras críticas recebidas quando interpretou Mariana na novela Renascer (1993) abalaram sua interação com o veículo. “Quem vivenciou vários lados de um processo cria mecanismos de defesa ou fica mais corajoso. Eu me incluo no segundo grupo. Em vez de me defender me protegendo, me atiro a desafios.” Não foram poucos. Mas cita como marco o espetáculo Only you (2002), com direção de Bibi Ferreira. “Tinha acabado uma novela e estava esgotada. Não era a hora certa, mesmo assim me joguei e foi um dos meus melhores acertos.”

Nascida no Méier, bairro da zona norte carioca, Adriana foi educada para ter uma profissão com diploma de curso superior. O pai pediatra certamente influenciou a opção da adolescente: “Eu queria ser médica.” Aos 19, mudou os planos e se casou com um professor de jiu-jítsu. Dois anos depois, já separada e atriz novata, resolveu fazer faculdade, optando por comunicação social. Atualmente mora no elegante bairro de São Conrado, perto do mar, porém longe dos holofotes de Ipanema e do Leblon. Adriana não gosta de expor sua privacidade e dá muito valor ao seu lado Lola, o de dona-de-casa que prioriza o filho Felipe, três anos e meio, do casamento de uma década com o também ator Marco Ricca. “Felipe é a única pessoa que me faz encostar a barriga, alegremente, no tanque e no fogão. Lavei as roupinhas dele e no início fazia papinha, sopinha. Mas se todo dia tivesse que fazer almoço para mim, ficaria magrinha e provavelmente perderia o marido”, confessa.

Mãe dedicada, a atriz acorda cedinho para levar o filho à escola.
Se há intervalo entre as gravações, sai correndo só para dar um
beijinho nele. Se não há, incumbe alguém de levá-lo aos estúdios.
Sem falar no que gasta com telefone para coordenar a rotina da
criança. “É um amor imensurável. Não sei imaginar minha vida sem
ele. Outras mães que tentaram gerar filho durante muito tempo sabem bem do que estou falando.” Ela não dá maiores explicações sobre
os motivos que a impediram de engravidar durante quatro anos. Diz apenas que foram “probleminhas femininos” resolvidos naturalmente.
Só tem uma certeza: se depender dela, o sobrenome Esteves Ricca
ainda vai proliferar bastante.