Diante da severidade com que a crise econômica internacional atingiu o Brasil, o governo mudou sua avaliação de que o País sairia ileso do episódio e tem adotado um amplo conjunto de medidas para amenizar seus efeitos sobre a economia. A forte contração do crédito externo e interno forçou as empresas a reduzirem a produção, os investimentos e o emprego.

A reação do Banco Central, liberando compulsórios, abrindo linhas de crédito para o comércio internacional, reduzindo a taxa de juros, aumentando as garantias bancárias através do Fundo Garantidor de Crédito, e outras medidas pontuais, foi decisiva para evitar que o efeito da contração do crédito gerasse um ambiente de inadimplência generalizada que, no limite, poderia levar a um colapso no mercado de crédito similar ao que ocorreu nos Estados Unidos e na Europa. Apesar disto, várias empresas e alguns bancos foram duramente afetados pela forte desvalorização cambial e pela restrição do crédito.

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No que se refere à política fiscal, a reação também foi rápida e forte. Entre outras medidas, a que mais tem chamado a atenção é a desoneração tributária (redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)) para automóveis, caminhões, motocicletas, produtos da linha branca (geladeiras, máquinas de lavar, etc.) e insumos para a construção civil, com o objetivo de manter o crescimento do consumo em alta.

A desoneração tributária, ainda que possa ter sido eficiente no sentido de evitar uma queda ainda mais forte no consumo de bens duráveis no curto prazo, terá o efeito oposto no médio prazo. Isto porque ela gera uma queda temporária dos preços destes bens, criando um incentivo para que os consumidores antecipem seu consumo para se aproveitar desta redução temporária dos preços.

Porém, por ser antecipação de consumo, isto significará menos demanda por estes bens no futuro, em relação ao que ocorreria caso a desoneração não tivesse ocorrido. Em outras palavras, devemos esperar uma queda de demanda desses mesmos bens no segundo semestre de 2009.

O risco desta estratégia é que a recessão seja mais severa e demorada do que o esperado pelo governo. A diminuição do nível de produção nos dois últimos trimestres foi avassaladora, tendo gerado uma queda vertiginosa no grau de utilização da capacidade produtiva na indústria e forte redução dos investimentos.

E, apesar das declarações otimistas de alguns empresários, a diminuição do nível de emprego na indústria (inclusive nos setores com redução do IPI) mostra que as empresas não estão convencidas de que a demanda se manterá nos próximos meses. O resultado foi uma diminuição da produção, do emprego e um aumento da taxa de desemprego, que atingiu 9% da força de trabalho em março.

Mais desemprego significa mais inadimplência e mais contração de crédito, reduzindo a demanda por bens e serviços. Os dados de crédito mostram que somente os bancos públicos (BB e CEF), forçados pelo governo, estão aumentando a oferta (apesar do risco de que o aumento da inadimplência acabe por comprometer a saúde financeira destes bancos, que, neste caso, terão que ser resgatados pelo contribuinte).

A redução do IPI dos bens de consumo duráveis antecipou parte do consumo futuro para o presente e, desta forma, amenizou a queda de demanda de bens de consumo duráveis. Porém, irá fatalmente reduzir a demanda. Como as empresas tentam antecipar o comportamento do mercado, já estão demitindo e o desemprego, aumentando. Este processo está apenas começando.