Determinada e combativa, a ministra Dilma Rousseff tem plenas condições de superar o mais recente obstáculo colocado diante de si. Seu tumor foi diagnosticado de forma precoce, extirpado e o tratamento quimioterápico visa apenas a impedir a reincidência de um câncer praticamente vencido. A postura transparente e corajosa diante da doença também contribuirá para a cura. Mas os obstáculos para chegar à Presidência serão muito maiores.

A começar pela péssima ideia do PT de abordar o caso como um fenômeno de natureza eleitoral. O assessor especial do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, disse que a ministra se "fortalecerá politicamente" com o episódio. E até o presidente Lula, em mais um dos comícios do PAC, pediu orações pela ministra, como se uma questão tão íntima devesse ser tratada num palanque.

Até agora, nada indica que a criação desse novo mito – o da mulher guerreira, capaz de vencer um câncer – seja capaz de se transformar em votos. Pode até ser que tenha efeito contrário.

Outros obstáculos à candidatura, não menos relevantes, também virão do próprio PT. Embora diga que Dilma é a sua candidata, o presidente Lula tem sempre feito uma ressalva – ela disputará a Presidência, desde que seu nome passe pelo PT e pelos demais partidos da base aliada, o que ainda está longe de ser um consenso.

E neste momento em que a saúde e o futuro da ministra começaram a ser debatidos abertamente, é natural que surjam especulações sobre possíveis substitutos. Não por acaso, na última semana falou-se cada vez mais em Antônio Palocci, um nome de maior tradição no PT e que também transmite maior confiabilidade ao establishment político e econômico.

Basta a absolvição no Supremo Tribunal Federal no caso Francenildo, que parece estar quase assegurada, para que ele se torne uma alternativa. Também não se deve desprezar a própria fragilidade da candidatura Dilma, que até agora não empolgou o eleitorado. Sem muito jogo de cintura, a ministra é um produto difícil de "vender", a despeito das plásticas recentes. Seu cartão de visitas, o PAC, deixa muito a desejar.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

E a imagem de "gerentona" talvez sirva para a escolha de um síndico de prédio, não de um presidente da República. Se a ministra continuar patinando nas pesquisas, outra tendência que voltará a ser discutida é a do próprio terceiro mandato do presidente Lula – movimento que representaria um tumor institucional, mas que seria praticamente imbatível.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias