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ESFORÇO
Por trás do vitorioso homem de negócios, décadas de suor e noites maldormidas

Oportunidades não faltam para quem busca subir na vida em um país em ascensão como o Brasil. Mas é preciso saber aproveitá-las. Foi exatamente isso o que fez o mineiro José Alencar durante toda a sua vida. De menino pobre, nascido no interior de Minas Gerais, Alencar ergueu um império empresarial com faturamento de R$ 3,1 bilhões por ano. A antiga Coteminas, que desde a fusão com a americana Springs adotou o nome Springs

Global, se tornou um dos maiores conglomerados têxteis do mundo, dono de marcas renomadas como Artex, Garber, M.Martan, Santista e Springmaid. “Criamos a maior empresa de cama, mesa e banho na face da Terra”, diz Josué Gomes da Silva, filho mais velho de José Alencar, que sucedeu o pai no comando do grupo. Josué foi treinado desde os 8 anos pelo pai. Nas aulas, Alencar inventava uma empresa fictícia e fazia Josué praticar todas as etapas do negócio, como vender, comprar e tomar emprestado. Como os resultados comprovam, a estratégia funcionou.

José Alencar aplicou na educação do filho a dura disciplina que marcou sua trajetória. Por trás do vitorioso homem de negócios havia décadas de suor e noites maldormidas. Ele começou a trabalhar muito cedo. Aos 7 anos, passou a ajudar o pai na lojinha da família, no povoado de Itamuri, em Minas. Aos 14, saiu de casa para ser balconista de uma loja de tecidos em Muriaé. Aos 18 anos, abriu o próprio negócio, um estabelecimento que vendia de tudo pelo menor preço do mercado e recebeu o sugestivo nome de “A Queimadeira”. A empreitada durou três anos, até que o esforçado comerciante decidiu mudar de ramo. Vendeu tudo, quitou as dívidas e tornou-se sócio da Fábrica de Macarrão Santa Cruz. Finalmente, em 1959, com a morte do irmão Geraldo – também de câncer –, assumiu o comando da empresa União dos Cometas e a confecção Wembley, em Ubá. Estava traçado seu destino no mundo têxtil.

Em 1967, aos 36 anos, Alencar decidiu dar um salto maior e construir sua primeira fábrica de fiação e tecelagem em Montes Claros, no norte de Minas Gerais. Aproveitou os recursos da Sudene – que também cobria Minas – e os incentivos fiscais e montou uma das mais modernas unidades têxteis do País. Na década de 80, Alencar foi convidado pelo BNDES a assumir os ativos da Seridó, empresa do Rio Grande do Norte, que tinha apoio da Sudene e contava com modernas tecnologias no ramo têxtil. Alencar não pensou duas vezes. Nos anos 90, durante o governo Fernando Henrique, aproveitou a política de câmbio valorizado para importar máquinas e equipamentos e modernizar suas fábricas em Minas e no Nordeste. Construiu uma planta industrial em Campina Grande, completamente automatizada, que atualmente produz 3,5 bilhões de quilômetros de fio, o suficiente para dar mais de 85 mil voltas na Terra. “José Alencar foi o exemplo de empresário extremamente competitivo”, diz o economista Armando Castelar, coordenador de economia aplicada do Ibre/FGV. “Ele teve coragem para enfrentar a concorrência chinesa quando todos temiam que o setor têxtil no Brasil fosse tomado pelos asiáticos.”

Quando decidiu entrar de vez para a política e concorrer ao governo de Minas Gerais, em 1994, José Alencar transferiu a maior parte do patrimônio para seus filhos. Sob o comando de Josué, a Coteminas se agigantou. Em 2004, ganhou o prêmio de Empresa do Ano da revista ISTOÉ Dinheiro. Mais tarde, a Coteminas realizou a fusão com a Springs Industries, num acordo em que a empresa brasileira tem 61% de participação. Os números são portentosos: além do faturamento anual superior a R$ 3 bilhões, possui um patrimônio de US$ 1 bilhão e 16 mil funcionários espalhados por 22 fábricas no mundo. Esse é o legado de José Alencar, o homem que sonhava em fazer sucesso e que construiu uma das trajetórias empresariais mais espetaculares da história recente do País.

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