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Poucos setores da economia brasileira cresceram de forma tão veloz nos últimos anos quanto o mercado de produtos de luxo. Em 2010, as vendas do segmento deram um salto de 22% – ­ou três vezes mais do que a alta do PIB no mesmo período. O Brasil já responde por 5% do faturamento mundial do setor, resultado principalmente da aceleração econômica que levou ao enriquecimento de uma parcela considerável da população. Se até pouco tempo atrás marcas como Chanel, Marc Jacobs, Louis Vuitton e Aston Martin eram raríssimas por aqui, hoje elas não só estão presentes como se tornaram campeãs de vendas. O fenômeno levou a uma situação inusitada. Não são apenas os artigos luxuosos que seduzem uma legião de consumidores. Itens que têm a marca da exclusividade – e por isso mesmo custam pequenas fortunas – passaram a ser cobiçados por pessoas que buscam acima de tudo alguma espécie de distinção. Ao adquirir algo que quase ninguém possui, o indivíduo consegue se destacar em um universo em que há cada vez mais gente com elevado poder aquisitivo.

Afinal, o que motivaria alguém a comprar um fogão a lenha por impressionantes R$ 6,9 milhões a não ser o fato de querer se sentir realmente único e exclusivo? A alemã Iron Dog lançou recentemente o modelo chamado de 05 Huraxdax, ornado com 260 quilos de ouro puro. De posse desse dinheiro, você poderia comprar pelo menos três apartamentos de alto padrão em um bairro nobre da capital paulista. Ou, talvez, 1.400 lareiras convencionais. A 05 Huraxdax pode ser encomendada pela internet – e alguns brasileiros ilustres já consultaram a empresa que produz o mimo. “Nada é tão livre como a arte e as pessoas que a amam”, diz Joseph Michael Neustifter, criador do objeto. O valor artístico muitas vezes é o pretexto que justifica o alto preço cobrado por artigos alçados por seus idealizadores à condição de relíquias. Essa é a nova tendência do luxo: dar à marca um status de arte para fugir do estigma de futilidade. O designer de consumo Maurício Queiroz, que ajudou a trazer para o Brasil grifes como as canetas Montblanc, faz uma comparação interessante. “No passado, as pessoas eram reconhecidas pelo seu brasão familiar”, diz Queiroz. “Cada brasão mostrava em que posição o cidadão se colocava naquela sociedade. Hoje, essa função cabe às grandes grifes.” Segundo ele, as marcas cumprem o papel de dizer um pouco sobre quem as utiliza. Ser dono de uma Montblanc cotada a R$ 9 mil é algo que distingue o proprietário, que o faz se sentir especial.

É natural que a camada mais rica queira se diferenciar da classe média ascendente. Tome-se o exemplo das viagens internacionais, que há pouco tempo deixaram de ser privilégio. Para certo tipo de consumidor, não basta ir a Nova York, Paris, Londres ou Roma. É preciso marcar a diferença. Apenas pelo trecho de ida São Paulo-Cingapura, com duas paradas, uma em Nova York e outra em Frankfurt, a Singapore Airlines cobra US$ 12.023,50 por sua primeira classe, ou cerca de R$ 20 mil. O valor é sete vezes superior ao preço de uma passagem convencional. Quem opta pela Singapore Airlines paga para viajar em uma companhia reconhecida como uma das mais luxuosas do mundo, que oferece refeições em louças de grifes assinadas por estilistas como Givenchy e pratos criados por chefs internacionais como o britânico Gordon Ramsoy. Detalhe: São Paulo é a primeira operação da Singapore Airlines na América do Sul, o que evidencia a força econômica do Brasil.

A performance da concessionária brasileira da britânica Aston Martin comprova o novo grau de desenvolvimento do País. A loja paulistana da tradicional grife, cujo modelo mais barato sai por R$ 700 mil, é a maior do continente e já está entre os maiores faturamentos da empresa fora da Europa. “Grandes marcas internacionais sabem que vão encontrar estabilidade econômica e política no Brasil”, diz John Doddrell, cônsul-geral britânico em São Paulo e diretor do UK Trade & Investment, que analisa oportunidades de negócios no País. Presidente do grupo LVMH, dono de marcas como Louis Vuitton, Dior e o champanhe Dom Perignon, o francês Bernard Arnault diz que, graças aos países emergentes, o grupo deverá registrar lucro recorde em 2011, acima de três bilhões de euros. “O mercado brasileiro tem imenso potencial de crescimento”, afirma Arnault.

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