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FRATRICIDA
Cleópatra na visão do pintor francês Alexandre Cabanel: ela mata o irmão para subir ao poder

Cleópatra, a fascinante rainha do Egito, não era linda. Nem sequer bonita. Era quase feia. Tinha um nariz adunco e grande e os cabelos cacheados, bem diferentes de sua pública marca registrada, a franja e os fios longos e lisos. Mas, sim, era extremamente sedutora e “escravizou” vários homens, entre os quais dois dos mais poderosos de seu tempo, o general romano Júlio César e seu protegido e sucessor, Marco Antônio. O livro “Cleópatra – Uma Biografia” (Zahar), da jornalista americana Stacy Schiff, mostra que a mulher desavergonhadamente sexual, de acordo com a construção que lhe foi dada pela história e pelas artes, era, na verdade, um genuíno ser político. Poder era o seu afrodisíaco. Ao longo das páginas, seu nome costuma ser ornamentado com apostos como traidora, ardilosa, assassina, irascível, falsa, astuta, esperta, ávida, ambiciosa, etc. Mas, reconhece-se, era ameaçadoramente inteligente e independente.

Por que a história optou por retratá-la apenas como predadora sexual em vez de iluminar sua intrigante personalidade de mulher de negócios? “Foi sempre preferível atribuir o sucesso de uma mulher à sua beleza do que à sua inteligência”, diz a autora, que “escavou as fontes mais antigas, separou o que era mito e eliminou as fofocas”, segundo o jornal “The Washington Post”. Cleópatra praticamente não deixou rastros originais. Talvez, e no máximo, seja dela a letra de uma única palavra escrita em 33 a.C.: “ginesthoi”, denominação grega para “cumpra-se”, que consta de um decreto real. Ela nasceu em 69 a.C. e morreu aos 39 anos. A versão mais popular diz que se deixou picar por uma serpente venenosa. Mas também isso pode ser uma invenção para dramatizar o mito. No final da vida, Cleópatra era mantida em cárcere privado por Otaviano, que acabara de anexar Alexandria a Roma, e as ordens eram para vigiar tudo e a impedir que se matasse. Como então teria passado despercebida pelos guardas uma cobra de 1,80 m de comprimento dentro de uma cestinha de frutas? Menos glamorosa, e talvez mais verdadeira, é a hipótese de ela ter se suicidado ingerindo qualquer veneno e tendo convulsões como qualquer outro mortal.

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NAS TELAS
Eleito o melhor do ano por muitos veículos dos EUA, o livro vai virar filme com Angelina Jolie

Antes de matar a si própria, porém, ela matou muitos inimigos, dentre os quais seus irmãos. Há muitos buracos em sua biografia. A mãe, por exemplo, é um mistério: parece que era filha bastarda e sua genitora morreu cedo.

O fato é que aos 12 anos já era órfã, com certeza. Cleópatra era descendente dos reis gregos do Egito, os ptolomaicos. Seu pai, Ptolomeu XII, morreu quando ela tinha 18 anos e deixou os descendentes cheios de dívidas. Ele designou que o Egito seria comandado por ela e um irmão, juntos, casados, como era costume na época. Cleópatra acabou por matá-lo e ficou sozinha com o poder. A rainha do Egito não era egípcia e, sim, grega de nascença. A vida pessoal sempre se enroscou com a política.

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Aos 21 anos, ela conheceu o primeiro amante, Júlio César, o poderoso general de Roma. Tiveram um filho e foram parceiros em planos de conquistas e monarquia conjunta. “Cleópatra, sem dúvida, contribuiu para a queda de César”, diz a escritora. Mas não parece ter participado do complô que o levou à morte, esquartejado por antigos companheiros. O fato é que ela logo tratou de seduzir seu sucessor, Marco Antônio, com quem teria vivido a maior relação de amor. Isso, contudo, não impediu que o encaminhasse para uma armadilha, ao final. O romance com Antônio, como ele é chamado, se deu quando a rainha tinha 28 anos e já era considerada meio velha. A atração foi instântanea e fatal, e eles tiveram um casal de gêmeos. A biógrafa escreve: “A notícia de que a empreendedora rainha do Egito tivera um filho chamado Alexandre, cujo pai era Marco Antônio e cujo meio-irmão era filho de Júlio César, constituía uma manchete de primeira página em 39 a.C. Era o que bastava para que Cleó­patra, usando uma frase muito posterior, fosse alvo de fofocas no mundo inteiro.” O fim dos dias de Cleópatra e Antônio é uma típica tragédia grega. O livro de Stacy, eleito um dos melhores do ano pelo jornal “The New York Times”, servirá de base para um novo filme sobre a rainha fatal, desta vez, com Angelina Jolie no papel principal. Apesar de linda, Angelina não precisará do seu esplendor físico para interpretar esta nova Cleópatra, uma estadista arrojada que, há dois mil anos, triunfou em um mundo dominado pelos homens.

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