i111460.jpg

SABOR A carne de bode é bem leve, garantem os especialistas, compatível com os mandamentos da vida saudável

No semiárido nordestino, onde o solo é seco para o plantio e pobre para alimentar os animais, quem reina absoluto é o bode. Resistente, o animal se adaptou às condições adversas da região e é destaque da economia local. Nas cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), o rebanho chega a 300 mil cabeças e o consumo é o maior do País – cada pessoa come cinco quilos por ano, 20 vezes mais que a média nacional. Ali, ele serve de sustento a várias famílias, que aproveitam a carne, o leite, o couro e até os chifres. A sinergia é tanta que inspirou um sugestivo ditado: naquelas paragens, não se sabe se é o homem que cria o bode ou se é o bode que cria o homem. Essa característica popular, no entanto, está prestes a mudar. Alguns criadores começam a importar matrizes estrangeiras para aperfeiçoar a raça e planejam conferir ao caprino da região uma qualidade internacional. "Em breve, a carne de bode será uma iguaria, um item sofisticado consumido em restaurantes de luxo", diz José Ramos da Silva Filho, um dos que investem na inovação. Para alcançar esse resultado, Ramos cria seu rebanho pela cartilha orgânica, leva em consideração as fases da lua e dispensa vermífugos químicos para tratar seus animais à base de chás de goiabeira e macela. Um luxo só.

"Em breve, a carne de bode será uma iguaria consumida em restaurantes de luxo"
José Ramos da Silva Filho, criador

i111461.jpgMIMO Ramos trata seu rebanho à base de chás de goiabeira e macela

Agrônomo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), José Nilton Moreira aposta que esse será o caminho do futuro. "Ao contrário do que muitos acreditam, o bode tem uma carne bem leve, atende perfeitamente às exigências de uma vida saudável", afirma. "Esse fator vai pesar cada vez mais na hora de o consumidor escolher seu alimento." Para chegar às mesas sofisticadas, no entanto, é preciso quebrar os preconceitos, já que o público urbano da região Sudeste acredita erradamente que o alimento tem a consistência dura e é mais gorduroso que outros tipos de carne.

O criador Ramos não tem dúvida de que essa mudança vai acontecer nos próximos anos e trouxe da África do Sul as raças boer, savana e kalahari red para o seu sítio, Acauã.

"O consumo dessa carne de alta qualidade já é grande no Canadá, na Austrália e nos países árabes, de onde recebemos tantos pedidos que ainda não temos como atender", diz ele. Alguns restaurantes da região Nordeste introduzem novidades gastronômicas com o objetivo de conquistar paladares mais refinados, como o fondue e a pizza de bode e também a carne defumada. Mas tudo está no campo da experiência, já que ainda não há oferta suficiente de carnes classe A. É essa deficiência que os criadores vão tentar solucionar com o cruzamento de raças que está sendo feito agora.