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Se até poucos dias atrás os conflitos na Líbia pareciam indicar uma vitória do ditador Muamar Kadafi, o jogo agora virou. Na sexta-feira 18, Kadafi capitulou pela primeira vez ao determinar um cessar-fogo contra os rebeldes. A decisão de levantar a bandeira branca, claro, não foi deliberada nem há sinais de que seja definitiva. O recuo calculado se deve a uma nova resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que, entre outras medidas, pediu a criação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia. Na prática, a iniciativa autoriza o uso da força militar para banir dos céus líbios os caças bombardeiros que vinham lançando ataques sistemáticos contra a população civil. França, Reino Unido, Qatar, Dinamarca e Noruega já confirmaram, na sexta-feira 18, que participariam da intervenção militar na Líbia. A partir de agora, apenas voos de ajuda humanitária estão autorizados a ingressar no espaço aéreo do país. A reviravolta veio num momento em que Kadafi dava demonstrações de força. Com os holofotes mundiais voltados para o tsunami do Japão, o ditador aproveitou para intensificar as ações sanguinárias contra os adversários. Esperava que suas investidas não chamassem a atenção da comunidade internacional. Depois do anúncio das resoluções da ONU, rebeldes e milhares de cidadãos líbios foram às ruas comemorar.

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OFENSIVA
Rebeldes enfrentam forças de Kadafi: primeira vitória dos opositores do ditador

A vitória da ONU, mesmo que temporária, deixa várias lições. Na invasão do Iraque, liderada por Estados Unidos e Reino Unido, a ofensiva militar foi realizada, a despeito da negativa do órgão, que preferia uma negociação pacífica. Nos confrontos da Líbia, os principais integrantes das Nações Unidas atuaram em conjunto. Votaram favoravelmente dez dos 15 membros do órgão. Rússia e China, que têm poder de veto, além de Brasil, Índia e Alemanha, se abstiveram. Às vésperas da visita do presidente Barack Obama ao Brasil, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, levantou a possibilidade de o governo votar a favor da criação de uma zona de exclusão aérea. O que mudou a posição foi a insistência de alguns países, inclusive dos Estados Unidos de aprovar um texto considerado “amplo demais”. “O Brasil não exclui associar-se a uma decisão que venha a apoiar uma zona de exclusão, sempre quando definida em termos que nos pareçam razoáveis”, disse Patriota. Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, na quarta-feira 16, o chanceler já avisava que qualquer ação militar deveria ser vista com ressalvas. “Não há relação automática entre uma intervenção militar e a proteção dos civis”, afirmou.

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ESPERANÇA
População vai às ruas festejar resoluções da ONU: trégua depois de 4 semanas de embates

Para evitar um mal-estar diplomático com Obama, o governo brasileiro divulgou um comunicado ressaltando que a abstenção não significava reprovação. “Nosso voto não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil”, afirmou a embaixadora Maria Luísa Viotti. Patriota garante que o Brasil é favorável às demandas dos rebeldes. “Eles querem mais liberdade de expressão, participação nos processos políticos internos e maiores oportunidades para a juventude. Objetivos com os quais só podemos estar de acordo e que são os mesmos das revoluções que derrubaram as ditaduras no Egito e na Tunísia”, diz o ministro. Desde que a onda rebelde se espalhou pela Líbia, há quatro semanas, o país rachou. Os opositores chegaram a tomar sete cidades do leste e uma delas, Benghazi, se tornou uma espécie de capital do grupo. Kadafi, com seus petrodólares, recrutou milhares de mercenários e consegui recuperar importantes cidades portuárias, como Brega e Ajdabiyah. Ele aparecia às portas do palácio do governo insuflando uma multidão de simpatizantes com ataques verbais ao Ocidente. Agora, enfrenta sua maior derrota. Resta saber se ela será definitiva.

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