Dias atrás, o governo divulgou sua previsão de safra agrícola. A melhor de todos os tempos, com uma colheita estimada em 154 milhões de toneladas de grãos. O Brasil protagonizou a grande virada do agronegócio global dos últimos 50 anos graças à “Revolução Verde” do Cerrado. Por trás desse sucesso, existe a mão invisível do Japão. O Brasil começou a dominar a tecnologia da agricultura tropical no início da década de 70, quando o governo japonês financiou o Prodecer, o Programa de Desenvolvimento do Cerrado, região que hoje responde pela maior parte do superávit comercial brasileiro.

Bem antes disso, a então Vale do Rio Doce, hoje apenas Vale, começou a se desenvolver quando seu ex-presidente Eliezer Batista firmou acordos de cooperação com grandes siderúrgicas japonesas, como a Nippon Steel. E a mineradora Vale, todos sabem, é hoje a principal empresa exportadora do País. Bem mais recentemente, o governador paulista Geraldo Alckmin, em seu mandato anterior, começou a fazer as obras de aprofundamento da calha e dragagem do rio Tietê, graças a um financiamento do governo japonês a fundo quase perdido – a dragagem foi depois abandonada pelos tucanos, trazendo as enchentes de volta, mas isso é outra história.

Esses três casos são apenas uma pequena amostra do muito que o Japão já fez pelo Brasil, sem considerar a inestimável contribuição da colônia nipônica nos últimos 100 anos. Apesar de tudo isso, o que o Brasil, que bate no peito e se orgulha de ser a sétima maior economia do mundo, oferece ao Japão? Absolutamente nada. Aliás,
o Itamaraty resolveu não ajudar nem mesmo os brasileiros que vivem
por lá, enquanto governos e empresas aéreas de vários países já se mobilizam para retirar seus cidadãos das zonas mais expostas à radiação cancerígena de Fukushima.

Ah, alguns poderão dizer que os japoneses são ricos e não necessitam de nenhuma ajuda internacional.
Podem se virar sozinhos para se reerguer de uma catástrofe que vai custar mais de US$ 200 bilhões. Afinal, têm um PIB duas vezes maior do que o nosso. Mas não é bem assim que a s coisas funcionam. Governos de outros países já enviaram navios e missões humanitárias. Aqui, o que se ouviu foi a frase patética do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, dizendo que o Brasil “vai ganhar mais do que perder” com o terremoto japonês.

Lupi não fala japonês. Mas há uma palavra que qualquer pessoa no mundo conhece. Arigatô. Muito obrigado. Era hora de demonstrar gratidão por tudo de bom que o Japão já fez pelo Brasil. Pelo menos, é isso o que se espera de quem pretende ser protagonista global. Ouviu Dilma Rousseff? Ouviu Geraldo Alckmin? Ouviu Roger Agnelli? 

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