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“Roosevelt morreu tão inesperadamente que
o protocolo de despedida foi improvisado”
Robert Klara, escritor

O presidente americano Franklin Delano Roosevelt (1881-1945) tinha um chalé de madeira chamado por ele de “Pequena Casa Branca”– servia-lhe de refúgio da turbulência política. A casa ficava em Warm Springs, nos arredores de Atlanta, no sul dos EUA, e possuía também uma função terapêutica para o governante: as águas termais abundantes na região eram indicadas ao tratamento da poliomielite, mal que o acometeu e o levou a passar os últimos 24 anos de sua vida paralisado da cintura para baixo.

Mesmo assim, o homem eleito presidente quatro vezes pelo voto popular tirou o seu país da depressão de 1929 e sustentou o seu posicionamento durante a Segunda Guerra Mundial. Foi já no estertor do conflito que Roosevelt, com sinais de hipertensão e problemas cardíacos, buscou novamente a tranquilidade de sua segunda residência. Só que dessa vez não voltou mais. No mesmo luxuoso trem, o Ferdinand Magellan, reservado para esses deslocamentos oficiais, deu-se o féretro numa viagem que entrou para a história e é agora reconstituída no livro “O Trem Funeral” (Larrousse), de Robert Klara – ele é editor do jornal “The New York Times” e colaborador de Gay Talese, o pai do novo jornalismo, tipo de escrita em que contar os detalhes de acontecimentos grandiosos ou insignificantes nunca é uma tarefa enfadonha.

E assim se passa com a sua obra. Era 12 de abril quando um AVC tirou a vida do presidente em Warm Springs. A partir daí o que poderia ser apenas um comboio fúnebre acaba se transformando em uma epopeia de detalhes e curiosidades que, ao longo da leitura, mostram o árduo trabalho de pesquisa do autor. Nada de passagens mórbidas ou sumiços de corpos. O que está documentado são os arredores de uma data-chave na política americana pela entrada em cena do vice-presidente Harry S. Truman, o continuador do New Deal, plano de intervenção estatal responsável por tirar os EUA do buraco. Na primeira parte, o autor conta os últimos momentos de vida de Roosevelt e os preparativos para transportar seu caixão de volta a Washington. Logo no início, mais um dissabor para a primeira-dama Eleanor Roosevelt. Recém-chegada às pressas da capital a bordo do avião DC-47 presidencial, ela descobre que a amante de seu marido, Lucy Mercer Rutherfurd, permaneceu ao lado dele nos dias que antecederam o falecimento.

 

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FUNERAL
O corpo de Roosevelt sendo colocado no trem de luxo e soldados das
três armas guardando os despojos: viagem de três dias por 1.000 Km

Durante o trajeto o racismo fez sua trégua e era possível observar sulistas brancos e negros misturados para assistir à passagem do caixão coberto com a bandeira americana. Assim descreveu o autor: “Atordoados, sombrios, numerosos cidadãos permaneciam nos cruzamentos, ou defronte a armazéns, ou ao lado de árvores 

e arbustos, ou mesmo no meio do nada.” A chegada do cortejo à Casa Branca torna a trama mais investigativa e curiosa. Terminado o velório oficial, dois trens são providenciados para levar o presidente morto para Nova York, local de seu enterro. A composição que transportava Roosevelt trazia também sua viúva, seus parentes
e a família do novo presidente, Truman. Já no outro trem havia jornalistas e funcionários secundários – muitos deles lamentando também a morte de seus empregos.

Mal preparado por seu antecessor, Truman é descrito como um líder dividido entre seus próprios ideais e a continuidade às ideias de Roosevelt. Entre elas, defender a rendição imediata da Alemanha e do Japão. Mal sabia ele da presença de outra companhia nessa viagem de mil quilômetros e três dias de duração: uma espiã soviética. Era uma senhora de 43 anos, canadense, chamada Lauchlin Currie. Além de ser conselheira econômica do presidente, ela passava informações para os russos a respeito do posicionamento americano em relação à Polônia. Fica-se sabendo, por exemplo, que os EUA não se importavam muito com os destinos do Leste Europeu. Ainda não se estava na Guerra Fria.

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