A moçada descolada já tem um novo ponto de encontro para a temporada de inverno. Longe da badalação de Campos do Jordão, a cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, já tem um festival de inverno de fazer inveja aos eventos do eixo Rio–São Paulo. Com shows de artistas famosos, exposições de arte, palestras com escritores
e apresentações folclóricas, do sábado 12 ao sábado 19, a organização
do evento esperava receber mais de 30 mil pessoas.

Localizada a 278 quilômetros de Campo Grande, Bonito é conhecida nacionalmente como o paraíso do turismo ecológico. Inscrustrada entre o Cerrado e o Pantanal, atrai turistas de todas as idades com belezas naturais como o rio da Prata, um verdadeiro aquário a céu aberto, excelente para a prática de mergulho, e a Gruta do Lago Azul, formada pela ação da chuva nas rochas de calcário. Há quatro anos, com seu festival de inverno, a cidade passou a ser o destino certo para quem quer férias com diversão e frio – as temperaturas chegam a zero grau.

O festival de Bonito é feito para ser popular. Cerca de 90% das
atrações têm entrada gratuita e naquelas em que é cobrado ingresso
os bonitenses pagam meia. As atrações diurnas, como oficinas de dança e encenações folclóricas, acontecem na praça da Liberdade, no centro, enquanto os shows e seminários têm lugar no circo. O rol de atrações também é bastante variado: da MPB de Toquinho e Ney Matogrosso
às modas pantaneiras da Família Espíndola, passando pela música eletrônica de Fernanda Porto.

Durante os sete dias de festival, Bonito recebe turistas de todo o Brasil, especialmente da região centro-oeste, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. O resultado é um público eclético. No domingo 13, sob um frio de oito graus, garotas de minissaia pregueada e boina – o figurino da moda teen – rivalizavam com garotos de cabelos black power. Vindo de Campo Grande, o casal Mirelle Duailib, 20 anos, e Rodrigo Estrada, 23, era uma amostra disso. Estudante de direito e jornalismo, ela vestia chapéu de pelúcia e sobretudo preto. O namorado, músico, exibia calça cargo, tênis e dread locks. Mesmo com estilos diferentes, os dois dançavam animados ao som pernambucano do
Cordel do Fogo Encantado. “Também vamos assistir às oficinas de
música e a uma palestra do Ziraldo”, contou Rodrigo. Eles estavam hospedados em uma pousada pela pechincha de R$ 35. “O segredo é reservar antes, porque durante o festival Bonito fica lotada e a diária chega a R$ 100”, diz Mirelle.

Para quem tem amigos ou parentes na cidade, o Festival de Inverno de Bonito já virou programa oficial das férias. Rafael Gomes Vendas e sua prima Isabella Arakaki, ambos de nove anos, passaram a semana assistindo a espetáculos de teatro, cinema e shows. Para eles, a melhor coisa de um festival de inverno numa cidade do interior é poder ir aos espetáculos sozinhos e a pé. “Avisei a minha mãe para me ligar sempre na hora do almoço, porque durante o dia e à noite eu estaria ocupada”, conta Isabella. Uma das atrações de que mais gostaram foi a encenação do Touro Candil, uma dança em que uma pessoa se veste de boi e as outras, fantasiadas de boiadeiros, ateiam fogo aos seus chifres. “É uma tradição daqui da região e foi criada por paraguaios que foram à Espanha e viram as touradas”, contou Rafael.

Além do Touro Candil, havia uma série de manifestações folclóricas do Mato Grosso do Sul, como a Saga do Mané do Boi ou as Danças Circulares Sagradas (as cirandas). Durante a semana, artistas e intelectuais de todo o País fizeram apresentações. O grupo Pia Fraus, de São Paulo, mostrou o espetáculo Bichos do Brasil, enquanto os brasilienses da Cia. Ruarte de Bonecos falaram sobre mitos e lendas da Amazônia. Nas oficinas, era possível adquirir noções de percussão com o grupo Maracatu do Baque Virado ou aprender técnicas de clown e mímica com os atores do grupo Lume. O tema ecologia também permeou várias atividades, como o seminário A água doce e o futuro do planeta, presidido pelo jornalista Zuenir Ventura.

Até o governador Zeca do PT entrou no clima de diversão. Sentado na arquibancada, de chapéu de boiadeiro e camisa xadrez, ele aproveitava o show de Zélia Duncan. Um dos idealizadores do evento, o político diz que a idéia é inserir a cidade no calendário de festas nacionais, assim como o Carnaval do Rio de Janeiro. “Não queremos que Bonito seja apenas destino para ecoturismo. Vamos discutir aqui cultura, folclore e preservação ambiental”, diz. Entusiasmado com o sucesso do festival, que registra um aumento de público de 15% ao ano, ele já planeja realizar eventos semelhantes em Corumbá e Ponta Porã. “O Mato Grosso do Sul precisa disso para reafirmar sua identidade”, afirma.