Está cada vez mais clara a participação dos empresários de futebol Reinaldo Pitta e Alexandre Martins no esquema do propinoduto, revelado por ISTOÉ em janeiro, em que fiscais de renda e auditores cariocas enviaram a um banco suíço cerca de US$ 34 milhões. O depoimento do funcionário Marcelo Fernandes Mesquita, que por 11 anos trabalhou na Passabra, casa de câmbio pertencente aos dois, não poderia ser mais comprometedor. Em testemunho prestado na terça-feira 15 ao juiz federal Lafredo Lisboa, Mesquita confirmou que os fiscais e auditores davam “moeda estrangeira” a Pitta, que em seguida levava o dinheiro ao cofre número 32 do Banco Mercantil, localizado na rua Sete de Setembro, no centro do Rio. Segundo o depoimento, “algumas vezes” esse dinheiro era enviado ao Exterior através da conta 60106 ZP do Discount Bank, representado no Brasil pela Coplac. Mesquita tinha acesso ao cofre que, como conta, chegou a ter US$ 400 mil. Quando entrou na empresa, o contador teria sido orientado a abrir contas no Banco de Crédito Nacional. “Eu era o laranja, tive pelo menos quatro contas no BCN. Simplesmente pegava o talão de cheque, assinava em branco e entregava a eles. Era eu quem levava os boletos de transferência à Coplac”, revelou Mesquita a ISTOÉ.

Os agentes do jogador Ronaldo estão presos no presídio Ary Franco desde o início de junho. A primeira menção aos dois foi feita pela testemunha Valéria dos Santos, ex-mulher do fiscal Carlos Eduardo Ramos. Em depoimento em abril, ela contou que a turma do propinoduto confiava a Pitta e a Martins os dólares conseguidos em suas transações escusas. Na primeira vez em que foi à Justiça, Mesquita negou sua participação, seguindo a orientação do advogado Alexandre Dumans, defensor também dos agentes. A possibilidade de ganhar o benefício judicial fez com que voltasse atrás
e contasse a verdade. “Temia ser condenado e por isso prestei esse depoimento”, explica. “Pensei: se abrir o bico posso morrer e se não
falar a verdade vou ser preso. Prefiro morrer.” O ex-funcionário da Passabra considera a possibilidade de uma reação violenta por parte
das pessoas que está denunciando. Por isso, tomou precauções.
“Deixei um dossiê com uma pessoa de confiança para ser entregue
ao ministro da Justiça caso aconteça alguma coisa comigo”, afirma. A quem pergunta quais nomes constam desse dossiê secreto, Mesquita
dá pistas esparsas: “Quem sabe seriam fiscais, ou jogadores de futebol, ou outros empresários…”

A investigação da papelada ligada às empresas de Pitta e Martins
pode levar a outros auditores e fiscais. Na agenda dos empresários há anotações de quantias que vão de “$12.000” a “$125.000” e apelidos enigmáticos como América, Jacaré, Pivato e Lagoa. O procurador da República Gino Liccione acredita que esses codinomes podem se referir
a funcionários públicos. “É quase certeza que existam outros
fiscais envolvidos”, afirma.