Com habilidade de quem faz política desde o movimento estudantil, ela administra como pode a ameaça de ser expulsa do PT por bater de frente com as diretrizes do governo Lula e enfrentar a ira dos principais dirigentes do partido. Mas foi a rebeldia da senadora Heloísa Helena contra os seus pares e, consequentemente, a reação deles que acenderam os holofotes sob esta alagoana da pequena cidade de Pão de Açúcar. E mais que isso: alçaram-na à condição de musa pop dos radicais do PT.

Ela não entra em saia-justa. A exceção foi o programa capitaneado por Rita Lee, Mônica Waldvogel, Marisa Orth e Fernanda Young, que
foi ao ar no fim do mês passado pelo GNT. É de calça jeans e camiseta branca, uma espécie de marca registrada, que ela enfrenta o PT. A senadora aproveita o generoso espaço que a mídia lhe tem dado para justificar suas posições contrárias às diretrizes do governo. “Me sinto supersenadora do PT. Não quero ser expulsa. Agora, o silêncio não
dá frutos”, assegura. Depois de entrar e se sair bem do Saia Justa,
o aperto ficou mesmo foi com o partido. A popularidade de Heloísa
Helena está em alta.

Lideranças fortes do PT estão convencidas que é melhor ter jogo de cintura e administrar o custo de manter a senadora do que pagar o preço de expulsá-la. Na segunda-feira 14, após participar do programa Roda Viva (TV Cultura), a chegada de Heloísa Helena no restaurante Pequi, em São Paulo, foi um termômetro de que a musa radical é pop e está em alta. Garçons, segurança, um motorista de táxi e até atores que frequentam o local solidarizaram-se com ela. Discreta, sentou-se no canto esquerdo de uma das mesas da varanda, embaixo de um aquecedor. Para aplacar o frio, pediu uma sopa de mandioquinha.

O garçom Ivandro Flores, 24 anos, gaúcho de Liberato Maestro, puxou conversa sobre a situação dos radicais no PT. “Assisto direto a senhora pela TV Senado. Sou seu fã”, derreteu-se o rapaz, que está se preparando para o vestibular. De forma doce e exibindo certa timidez, que em nada se parece com a persona vulcânica que entra em erupção no plenário quando sai em defesa de suas convicções, esclareceu: “Olhe, eu só sou de briga lá. Aqui sou ternura.” A frase foi repetida ao ser abordada por um motorista de táxi, que fazia ponto no restaurante e chegou com um bloquinho pedindo um autógrafo: “A senhora tem que brigar mesmo pela gente lá, pelo que é direito. O PT não pode mudar agora.”

Ao transgredir as normas do restaurante, que protege celebridades
dos pedidos de autógrafo, o motorista de táxi deixou o caminho aberto para que funcionários e clientes fizessem o mesmo. Depois do segurança Arnaldo, foi a vez dos garçons Marcelo e Ivandro. Munido com um postal com a frase de N. Titulescu “O futuro tem que ser obra nossa”, pediu
que a senadora fizesse uma dedicatória para sua professora do pré-vestibular Neiva Maestro. E Heloísa mais uma vez radicalizou:
“Não tenha medo de ser socialista.”

A senadora, que não dispensou a sobremesa, está otimista, apesar da data do julgamento final que decidirá seu futuro no partido, o tenebroso 11 de setembro. “Tem muita gente querendo me pôr na fogueira, mas, independentemente das tendências, filiados, dirigentes, parlamentares e militantes estão fazendo um esforço gigantesco para impedir a nossa expulsão e preservar a democracia interna no PT”, aposta. Quem tenta segurar os pesados golpes de Heloísa contra o governo de seu próprio partido é o cordato e elegante senador paulistano Eduardo Suplicy. De fala mansa e pausada, ele usa a experiência de boxeador para treinar a senadora, que movimenta os braços como uma pugilista quando discursa: “Bate, mas não usa tantos adjetivos. Eles acabam fazendo com que os golpes atinjam o fígado. E aí não pode”, ensina Suplicy. Ela dá boas gargalhadas ao lembrar que o companheiro de bancada tem razão quando tenta amansar o seu gestual: “Fecho as mãos e suspendo os punhos para cima. Como é o nome desse golpe?”