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DINHEIRO
Orçamento da TV Senado cresceu quatro vezes em seis anos

Criada em 1996 com o objetivo de aproximar o Parlamento do cidadão comum, a TV Senado ainda não cumpriu sua missão, mesmo com uma estrutura de grandes dimensões montada para tal empreitada. Com índices inexpressivos de audiência, quase clandestina, a emissora tem à sua disposição funcionários, equipamentos e recursos que não devem nada às maiores emissoras do País. A TV Senado conta com um quadro de 340 funcionários, equivalente ao da sucursal da Rede Globo em Brasília, dez vezes maior do que o da Rede TV! e quatro vezes mais robusto que o da Rede Record na capital federal. Seu orçamento quadruplicou em seis anos, saltando de R$ 10 milhões em 2005 para R$ 40 milhões este ano. O valor é exorbitante, uma vez que quase 70% dos programas são feitos ao vivo, com a cobertura diária das sessões plenárias e das reuniões das comissões. Mas a audiência média não alcança sequer um ponto no Ibope.

O índice não passa de 1.331 telespectadores por minuto no País, enquanto o jornal local da Rede Globo registra no horário menos concorrido – o das seis horas da manhã – cerca de sete pontos de audiência, o que equivale a 1,3 milhões de pessoas em São Paulo. “É uma estrutura gigantesca e ainda há proposta para aumentá-la. E tudo ocorre sem nenhum acompanhamento ou fiscalização. Temos que corrigir”, brada o senador Pedro Simon (RS), um dos defensores de uma ampla reforma administrativa na Casa.

“Produzimos muito. Desde documentários até programas culturais”, rebate o diretor adjunto da TV Senado, Aluizio Oliveira. Mas, como ocorre em todos os setores do Senado, o custo-benefício acaba se tornando alto, levando-se em consideração os excessos e o retorno dado ao contribuinte. Desde o ano passado, a TV Senado transmite sua programação para todo o País por meio de cabo e antenas parabólicas, e abriu sinal para 11 capitais, sendo duas – Brasília e São Paulo – com qualidade digital. Entre os exageros está a contratação de servidores terceirizados, como operadores de câmeras, técnicos de áudio e vídeo e diretores de arte. Do total de 340 funcionários, apenas um terço é formado por servidores concursados. A contratação dos terceirizados acontece mediante licitação. Esse processo é um terreno fértil para o compadrio e desvios de toda ordem praticados pelos senadores.

Durante a gestão do ex-senador Efraim Morais (DEM-PB) na primeira secretaria da Casa, o contrato da TV Senado com a empresa Ipanema, orçado em R$ 30 milhões por ano, virou alvo de investigação do Ministério Público. Na planilha de custos, verificou-se superfaturamento nos salários dos operadores de vídeo de quase 600%. No auge dos escândalos envolvendo o Senado em 2009, o então senador e sucessor de Efraim, Heráclito Fortes (DEM-PI), providenciou a troca da Ipanema pela Plansul Planejamento e Consultoria Ltda. A iniciativa, porém, não inibiu os abusos. À época, servidores vinculados à Plansul, encarregados de prestar serviços à TV Senado, foram flagrados trabalhando no gabinete de parlamentares.

A TV Senado já deu mostras de que é possível operar bem com uma estrutura mais enxuta. O recorde de sua audiência ocorreu em 2005, quando dispunha de um orçamento quatro vezes menor e a metade da equipe atual. Em julho daquele ano, nas transmissões das CPIs do Mensalão e Correios, a TV Senado chegou a ocupar o 23º lugar no ranking do Ibope dos canais mais vistos com 14.644 telespectadores por minuto no horário nobre, ficando à frente de canais como Band News, ESPN Internacional, National Geographic, Telecine Emotion e HBO2. A TV Senado fazia a cobertura de cada CPI com apenas duas câmeras, operadas por um cinegrafista e um assistente. Mesmo assim, seu logotipo frequentou quase diariamente todos os telejornais. “As televisões convencionais entravam em rede com a gente. E mostravam as imagens geradas por nós”, relembra Aluizio Oliveira.

Do ponto de vista jornalístico, uma das vantagens da programação majoritariamente ao vivo é que ela “democratiza” o acesso à visibilidade dos senadores e diminui a margem de pressão dos parlamentares interessados em aparecer com mais destaque. Mesmo assim, as tentativas de ingerência são constantes. “Existem pressões, mas não cedemos. Temos a regulamentação na nossa mão. Estou há 13 anos aqui e posso garantir que a pressão na iniciativa privada é maior”, diz o diretor adjunto da emissora. A regra determina que, independentemente de quem estiver depondo em uma CPI, a prioridade de entrar ao vivo é sempre das sessões em Plenário, onde todos os senadores podem discursar e aparecer. Nessa questão específica, a TV Senado é bastante democrática. É muito pouco, porém, para justificar sua grandiosa estrutura.

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