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ESCRACHO
Julio, Dinho, Samuel, Sérgio e Bento: humor e irreverência que mudaram o cenário musical

Com um short rosa colado ao corpo, Dinho se dirigiu ao público durante o show que a sua banda, Mamonas Assassinas, fazia em São Paulo na noite de 6 de janeiro de 1996. Olha para o público de 18 mil pessoas e manda o desabafo: “Há cinco anos eu estava aí, no meio de vocês, querendo estar aqui… E as pessoas diziam: ‘É impossível você chegar até aqui’.

Manda eles pra pqp!” Essa cena está no documentário “Mamonas pra Sempre”, do cineasta Cláudio Kahns, com imagens inéditas dos cinco integrantes que faziam piada até na hora de fechar contrato com a gravadora. O humor, entretanto, deu lugar à dor no dia 2 de março de 1996, quando o jatinho em que viajavam se espatifou contra a Serra da Cantareira, na capital paulista – todos morreram, deixando inconsoláveis fãs dos oito aos 80 anos. A essa altura, o grupo, que reinou por nove meses nas paradas, já havia vendido mais de dois milhões de cópias do único disco que lançou.

Alecsander Alves, o Dinho, tinha 24 anos quando morreu. O tecladista Júlio Rasec, 28; o guitarrista Bento Hinoto, 25; o baterista Sérgio, 26, e o irmão dele, o baixista Samuel Reoli, 22. Foi o fim de uma carreira que contabilizava a extraordinária marca de três shows num mesmo dia, movido a sucessos como “Vira-Vira” e “Pelados em Santos”.

O empresário paulista André Oliveira de Brito, o Ralado, 38 anos, que era assistente de produção da banda, tem uma explicação para a comunicação instantânea das letras: “Eles colocavam o coração em cada coisa.” Entre as imagens inéditas de bastidores garimpadas por Kahns estão os rapazes na gravação do disco em Los Angeles. Eles aproveitaram a viagem para conhecer a Disneylândia, um sonho de infância. Brito diz que só assistiu a uma briga no grupo, quando Dinho repreendeu Samuel em relação a uma namorada, que julgava “não ser mulher para ele”: “O Samuel então retrucou, perguntando se a Valéria (Zopello, namorada de Dinho até a morte e musa de “Pelados em Santos”) não era também uma oportunista.”

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“Não ia fazer um filme. Mas, ao organizar o material 
que gravei sobre o grupo, vi que dava um longa”
Cláudio Kahns, cineasta

Mesmo com tantas passagens raras, “Mamonas pra Sempre” nasceu por acaso. Kahns decidiu gravar entrevistas com pessoas ligadas à banda apenas para formar um arquivo de imagens. “Ao organizar o material, vi que valia um documentário”, diz ele. Além do filme, a banda recebeu outra homenagem: foi tema do desfile da escola de samba Inocentes de Belford Roxo, do grupo de Acesso A do Carnaval do Rio de Janeiro. Kahns filmou a apresentação, para uso futuro. Os 15 anos de desaparecimento do quinteto também não passou em branco para a publicitária carioca Mariana Campos. “Eles tinham uma autenticidade que é difícil de replicar, representam algo muito feliz”, diz ela. Para o cantor e ator Evandro Mesquita, que nos anos 1980 embalava multidões com a bem-humorada banda Blitz, o motivo pelo qual os Mamonas Assassinas ainda têm fãs mirins e jovens que conhecem as letras de suas canções é simples: “Música boa não tem prazo de validade.”

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