A contaminação do Congresso por antigas mazelas da política parece não ter fim. Parlamentares investigados, réus em processo, acusados de desvios ou deputados pilhados em flagrantes de corrupção ou de enriquecimento ilícito voltam aos holofotes, desta feita na condição de titulares em comissões que irão deliberar sobre os principais projetos legislativos do País. Inevitável a indagação: por que eles? É fácil supor que de tal maneira se alastrou a prática de quebra de decoro naquela Casa que hoje se tornou quase impossível a organização de um grupo de trabalho congressual sem que um ou outro membro não tenha o seu nome ligado a velhos – ou nem tanto – escândalos da política. Neste início de ano legislativo, salta aos olhos, de todo modo, o número de investigados ocupando postos-chaves na Câmara. O réu do mensalão João Paulo Cunha (PT-SP), por exemplo. Reeleito pelo voto direto depois que sua mulher sacou na boca do caixa de um banco R$ 50 mil do esquema de propinoduto montado pelo publicitário Marcos Valério, João Paulo assumiu nada mais, nada menos que o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), uma das mais importantes da Casa, a chamada “mãe de todas as comissões”. Nela o deputado terá poderes para postergar, acelerar ou até abortar projetos de lei. O deputado José Guimarães, por sua vez – pego lá atrás com dólares na cueca, atualmente enfrentando processo de cassação –, foi lotado agora na Comissão Especial da Reforma Política. Ao lado de nomes como Paulo Maluf e outros fichas-sujas, ele vai discutir, por exemplo, assuntos como financiamento de campanhas eleitorais. É difícil nesse e em outros casos imaginar escolhas tão equivocadas. Mas existem indicações erradas de todo tipo e atendendo a interesses multipartidários. O réu do mensalinho mineiro Eduardo Azeredo (PSDB-MG) entrou no comboio das comissões por indicação direta dos tucanos. Conseguiu uma vaga na de Relações Exteriores e Reforma Tributária. O deputado Sandro Mabel (PR-GO), que segundo investigação distribuía mesada a parlamentares do PL que votassem com o governo, está na Comissão do Trabalho e Serviço Público. A fábula da raposa e do galinheiro repete-se à exaustão como uma triste realidade, a despeito da luta de muitos por uma moralização da política brasileira. Resta torcer para que, mesmo nas mãos desses senhores – reconduzidos ao Congresso por decisão dos próprios eleitores, é bom que se diga! –, o País não repita a triste história de desmandos que viveu até bem pouco tempo atrás.


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