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A relação entre dinheiro e consumo é o tema da exposição “748.600”. Primeira realização do programa Novos Curadores, que teve início em 2010, o objetivo foi o de buscar a formação e a revelação de novos talentos em curadoria. Renan Araújo foi o primeiro contemplado, com a proposta de uma mostra pertinente com a realidade da arte atual, mas que, mais do que simplesmente abordar a questão do sistema da arte dentro do capitalismo, apresenta uma seleção de artistas que explicitam em seus trabalhos essa intrincada associação. Essa relação, tida muitas vezes como profana, pode ser observada desde a conceituação da exposição, já que o patrocínio veio de uma instituição financeira, o Banco Santander, e o titulo “748.600” representa o valor total envolvido na sua produção.

Outra questão evidenciada na mostra é a convivência dúbia entre a arte brasileira e a difícil realidade econômica do País. Há trabalhos antológicos, como as pinturas “Burocráticas”, de Gerty Saruê, e o múltiplo “Zero Cruzeiro”, de Cildo Meireles, uma nota que tem o zero como inscrição mas cujo valor de mercado, como obra de arte, é consideravelmente maior. Em “Blue Phase”, Jac Leirner monta um painel com notas de cruzeiro rabiscadas, dialogando com um passado financeiro problemático. Já o atual clima de bonança econômica é evidenciado na fotografia “Teatro Heredia IV”, de Caio Reisewitz (foto), na qual luxo e riqueza são ostentados por instituições culturais.

Reisewitz apresenta a fotografia de uma instituição cultural que não é brasileira, mas essa imagem, talvez mais que qualquer outra na mostra, destaca a relação instituição/artista e dinheiro/arte como um ciclo cada vez mais interdependente no contexto nacional. Já que não é possível evitar a associação entre produção e capital, o importante é considerar, em uma exposição como esta, as possibilidades alternativas que criam relações igualitárias dentro desse sistema. “Para nós, é cada vez mais importante investir na ideia de uma economia criativa. Nesse sentido, a relação entre arte e mercado nos interessa, como um caminho para conhecer e fomentar novas ideias”, afirma Elly de Vries, coordenadora do acervo do Santander Cultural.