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O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, se reúne com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília na segunda-feira 23. A visita, de caráter inédito, ocorre num momento de grande tensão política internacional, após o Irã recusar a oferta da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) e dos Estados Unidos para enriquecer seu urânio na Rússia ou na França. Fontes do governo informaram à ISTOÉ que Ahmadinejad poderia reconsiderar sua posição sobre o tema, caso pudesse enviar o urânio para ser enriquecido no Brasil, um país considerado neutro ideologicamente e não hegemônico.

Nesse sentido, o governo Lula passou a ser considerado pelos Estados Unidos como um mediador estratégico nas negociações para a comunidade internacional obter garantias reais de Teerã sobre a finalidade pacífica de seu programa nuclear. Afora a questão política, a visita do iraniano terá forte caráter comercial. Ahmadinejad virá acompanhado de uma comitiva com 300 empresários.

Há expectativa de que sejam assinados acordos em desenvolvimento científico de biocombustíveis, inclusive etanol, de intercâmbio de garantias bancárias, para financiar projetos de investimento e até isenção de vistos para empresários e diplomatas. Para o embaixador iraniano no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, a cooperação entre o Brasil e o Irã se insere na dinâmica de aproximação Sul-Sul. “Existem hoje grandes capacidades nas diferentes áreas de indústria, agricultura e esquisa científica nos países do Sul.
 
 Isso pode propiciar a execução de projetos e projetar um futuro melhor”, afirma. O diplomata avalia que “o mundo atual é escravo de uma nova forma de exploração e colonização” e aposta na parceria com o Brasil para romper com o isolamento imposto pelos Estados Unidos. “Vencer esta situação é uma necessidade inevitável.”
 
Lula, por sua vez, ficou especialmente irritado quando recebeu um relatório, obtido por ISTOÉ, sobre os planos de investimento do Irã em nível mundial, com projeções de acordos acima de US$ 41 bilhões.
 
O documento traz listas de projetos em curso na Venezuela, na Bolívia, no Equador e até em Cuba, enquanto o Brasil não é sequer citado. “Não é possível que nossos vizinhos estejam aproveitando essa oportunidade e nós não”, disse Lula ao assessor internacional Marco Aurélio Garcia, numa reunião ocorrida na terça-feira 17.
 
Analistas, no entanto, veem com preocupação o encontro. Sobram críticas a Ahmadinejad, a começar pelas fraudes no processo eleitoral que culminou em sua reeleição.
 
Mesmo fazendo todas as ressalvas, o embaixador aposentado Marcos Azambuja, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, afirma que não há como deixar de negociar com o Irã. “Melhor seria se o presidente não viesse, mas impedir sua vinda seria reduzir as possibilidades brasileiras”, diz Azambuja.
 
Já que o desembarque está para acontecer, o embaixador sugere uma recepção de “baixo perfil”, que seja a mais discreta possível. Em se tratando de Ahmadinejad, vai ser difícil. Antes mesmo de sua chegada, protestos já pipocavam pelo País.
E, não por acaso, o presidente de Israel, Shimon Peres, passou pelo Brasil duas semanas antes, disparando contra o mandatário iraniano.
 
 
Comércio desigual
Us$ 1,1 bilhão
É o total das exportações do Brasil para o Irã, que incluem autopeças, minérios, cereais, carnes e açúcares
Us$ 14,8 milhões
É o valor das importações iranianas feitas pelo Brasil, que envolvem principalmente frutas, peles e tapetes
 
Fonte: ministério do desenvolvimento, indústria e comércio exterior, dados relativos a 2008


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