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SOMBRIO No jogo, o ratinho circula por um mundo estranho e sombrio

Nas últimas oito décadas o mundo se acostumou com a agradável presença do ratinho Mickey Mouse, um sujeito boa-praça, em intencionado e ingênuo. Com a força que emanou de Mickey a Walt Disney Company se firmou como uma das maiores produtoras de conteúdo infantil do planeta. Estima-se que, em 2008, só a marca Mickey tenha movimentado US$ 5 bilhões, o equivalente a 13% do faturamento total do grupo, estimado em US$ 37,8 bilhões anuais.
 
Mas a Disney quer que ele renda ainda mais. E, para isso, a empresa arquiteta mudanças para o personagem em 2010. O marco zero da nova fase será o lançamento do jogo Epic Mickey, que apresentará um ratinho mais complexo, cujas atitudes não se esgotam no bom-mocismo. “Queremos trazer o heroismo e até um pouco de mau comportamento de volta”, diz Warren Spector, diretor criativo do game. “Hoje ele é lembrado apenas como estampa de camiseta, ou como brinquedo de criança. Queremos mudar isso.”
 
A superprodução Epic Mickey chegará ao Wii, da Nintendo. No game, caberá ao jogador decidir como ele se comportará – se ele será bonzinho e polido, como de costume, ou egoísta e até mau.
 
O jogador deve guiar o ratinho por uma terra de ninguém habitada por personagens criados pela Disney em seus 81 anos de existência, mas que, por alguma razão, não fizeram sucesso e hoje se ressentem da fama que Mickey parece não querer dividir. Armadilhas criadas a partir de atrações de parques como o Walt Disney World, nos Estados Unidos, também compõem o cenário. E a autorreferência não para por aí.
 
No jogo, as principais ferramentas do herói são um pincel e um pote de tíner, para diluir a tinta que cria o estranho mundo por onde Mickey circula. “O jogador pode decidir que tipo de herói ele quer ser”, explica Spector.
 
“E as decisões que ele toma moldam o Mickey, tanto em sua aparência quanto em suas habilidades”, diz. Com o ingresso em escala épica de Mickey Mouse nos games, a Disney se arrisca para inovar com o que tem de mais tradicional. “Não é um novo personagem, mas as pessoas vão conhecer um lado novo do Mickey”, diz Marcelo D’Emidio, da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP). Mas o risco é controlado.
 
“A Disney não começou a mudança na parte de filmes ou de programas de televisão”, ressalta André Galiano, da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Para ele, o mundo dos videogames é bastante segmentado, tem impacto principalmente no universo adolescente e pode servir de tubo de ensaio para um Mickey menos bonzinho.
 
“Mas é sempre difícil e arriscado mexer com um clássico”, afirma Galiano. Ainda mais quando ele é um sucesso que encanta e rende bilhões. 
 
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EVOLUÇÃO Do primeiro Mickey (à dir.) ao Mickey 3-D colorido passaram-se mais de 80 anos