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ORNAMENTAL Na mostra de Auguste Glaziou , há documentos e projetos originais

Em vez das retas clássicas, ele optou por fazer curvas nos caminhos que cortavam os jardins brasileiros, permitindo mais ângulos de contemplação aos visitantes. Usou, em seus projetos, plantas nativas e registrou mais de mil espécies delas, valorizando a cultura local no País e no Exterior.
 
Após 35 anos vivendo no Brasil, de 1858 a 1893, o paisagista e botânico francês Auguste Glaziou (1833-1906) deixou seu legado em parques, praças e propriedades privadas sobretudo no Rio de Janeiro, sede do império na época. São de sua autoria alguns dos jardins mais bonitos da cidade, como a Quinta da Boa Vista, o Campo de Santana e o Passeio Público.
 
Suas marcas influenciaram artistas contemporâneos, como o paisagista Burle Marx, e o levaram ao posto de chefe da Diretoria de Parques e Jardins da Casa Imperial. Por tudo isso, o francês ganhou a exposição “Glaziou e os Jardins Sinuosos”, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, até 15 de janeiro.
 
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Quando o paisagista francês aportou no País, havia poucos jardins projetados em solo brasileiro.
Sua chegada coincidiu com um período de valorização dos espaços públicos urbanos, que já havia acontecido na Europa pós-revolução industrial, no século XVIII. Em vez de apenas replicar o estilo europeu, o artista valorizou a cultura local e tornou a mistura de espécies nativas e exóticas uma das marcas de seus projetos.
 
“A única mágoa dele com o governo do País eram os atrasos no pagamento”, destaca Carlos Terra, professor de história dos jardins, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Apesar de estar imbuído da cultura local, ele não deixou de lado sua formação. Em suas criações, elementos naturais como relevo, rochedos e grutas são recriados com cimento e outros materiais.
 
Tudo para atender ao ideal romântico da época, que valorizava paisagens idealizadas, segundo a arquiteta paisagística Maria Anita Souto, da Secretaria de Meio Ambiente da cidade do Rio de Janeiro. “Ele construiu sistemas hidráulicos e de drenagens perfeitos e elementos ornamentais”, ressalta.
 
Ainda hoje, o paisagista de origem humilde que veio ao Brasil em busca de oportunidades não tem o reconhecimento devido na história, defende a curadora da exposição, Anna Paula Martins, da Dantes Editora. “Glaziou preferiu a ação à escrita e deixou poucos registros de seu trabalho”, justifica. Alguns deles, como documentos e projetos originais, fazem parte da mostra, que conta também com fotos e gravações de suas criações em vídeo.
 
“Seu pensamento sobre o Brasil pode ser visto quando se contemplam seus jardins. Foi ali que ele deixou sua obra de arte”, destaca Anna Paula.

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O Mestre dos Jardins