Para Katia, a pesquisadora de esporte e mitologia, a condição de fora do comum assumida pelo Fenômeno em vida é diferente, também, da de outros dois grandes personagens que ocupam o imaginário do brasileiro. “O Ayrton Senna é um herói construído na vitória, vai ser sempre perfeito porque morreu no campo de batalha. Já o Pelé é mito pelo que fez dentro de campo. Fora dele, é visto como aquele que não assume as mazelas da vida, como, por exemplo, o fato de não reconhecer a paternidade de uma filha fora do casamento”, explica ela. Ronaldo, pelo contrário, encanta, erra, acerta e se supera, torna-se um ser superior na adversidade. A fatídica derrota para a França, em 1998, poderia ter selado o fim de sua carreira. O camisa 9 era o ator principal daquela Seleção comandada por Zagalo. Estava no auge da forma física. Pisou em território francês com dois títulos de melhor do mundo a tiracolo. Tinha 21 anos, era já o super-herói. Mas ele ruiu. Roberto Carlos o viu convulsionando no quarto no dia da final. Nascia aí a história de que ele sucumbira à pressão. E poderia, dali para a frente, carregar a pecha de amarelão no esporte. Só que, mais uma vez, se reinventou e mostrou que muitas glórias ainda estavam por vir. Na vida pessoal, tirou de letra o episódio de reconhecimento do filho fora do casamento, situação com que tantos jogadores lidam mal. Aceitou-o mesmo antes do resultado do exame de DNA, incorporou-o à sua família e à sua rotina de tal forma que o menino foi a estrela da cerimônia de adeus do craque.

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Para alcançar essa condição de mito do esporte, de herói do futebol, não basta ser campeão e fazer golaços de derrubar o queixo. Isso muitos jogadores conseguem. Se estivesse vivo, Campbell, o papa da mitologia, quem sabe um dia diria que o bom jogador é aquele que não compromete o time; o craque, o que decide; o gênio, o que antevê as jogadas e o mito, aquele que tem essas três habilidades como nenhum outro e é imperfeito como todos nós: é o Fenômeno.

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Colaboraram: Claudia Jordão, Luciani Gomes e Paula Rocha