Nenhuma emissora de rádio até hoje conseguiu agradar a gregos e troianos. Enquanto alguns querem ouvir sobre tecnologia e rock, outros preferem música clássica e cultura. Em comum, todas as tribos estão sujeitas aos comerciais e a outras interrupções na programação. Isso é o rádio. Ou era. Agora a tecnologia digital criou um novo meio de comunicação: as rádios personalizadas, também chamadas por seu nome em inglês, podcast.

Mais de 100 anos depois que o italiano Guglielmo Marconi desenvolveu o telégrafo sem fio, que mais tarde evoluiria até chegar às transmissões de rádio, qualquer mortal consegue com alguns cliques elaborar sua própria rádio, de graça, e ser ouvido em todo o mundo. Coisas da internet.

A idéia se tornou realidade em 2004, quando o ex-VJ da MTV americana Adam Curry enjoou de ouvir as mesmas músicas e criou sua própria emissora. Começou com um tipo de diário gravado dentro do carro, no trânsito, que ele conseguiu transmitir para os tocadores de música digital. Assim nasceu a mania podcast, uma junção das palavras iPod (tocador de músicas da Apple) e broadcasting – que em inglês significa transmissão de rádio ou tevê. O ex-VJ se tornou o pioneiro da nova mídia com um programa diário gratuito com audiência de um milhão e meio de pessoas por mês.

A moda pegou fácil. Em agosto, havia mais de seis milhões de usuários só nos EUA. Para 2010, a estimativa é de que 12,3 milhões de residências americanas devem aderir à novidade, segundo a empresa de consultoria Forrester Research. Hoje são mais de 300 mil podcasts no mundo. No Brasil, o mais popular deles foi criado pelo produtor Billy Umbella, conhecido como Maestro Billy, o responsável pela discotecagem do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo. “Essa mídia é interessante porque é livre e sem custos, só escuta quem quer”, afirma. Em seu programa, Billy faz entrevistas e comenta os lançamentos musicais. Atualizado ao menos uma vez por dia, cada programa alcança a média de 550 downloads.

Vaticano – No embalo, era de esperar que algo tão fácil e divertido de fazer tivesse adeptos com diferentes idéias. Já é possível encontrar portais como o PodBrasil (www.podbrasil.com.br), organizado por canais de interesse. Um dos idealizadores, o radialista Sérgio Cestaro enxergou ali algo além de mero entretenimento. “Ainda não ganhamos dinheiro, mas isso vai mudar, é questão de tempo”, diz. No portal é possível encontrar desde horóscopo e numerologia, passando por ecologia e esporte, até o mais acessado de todos, o PodSexo. Nesse canal, Diogo Lopes, do Rio de Janeiro, transmite sua conversa com a namorada Alicinha Pereira, que mora no Recife. Duas vezes por mês, um total de 800 pessoas ouve o casal falar de forma bem humorada sobre etiqueta na cama, piadas pesadas ou até sobre as melhores músicas para transar ou para esquentar o relacionamento.

Para se redimir dos pecados, os crédulos que falam inglês podem ouvir num podcast os sermões do reverendo Leonard Payne, da Igreja de St. Nicholas, no sul da Inglaterra. Com audiência de mais de dois mil downloads, o sacerdote se disse espantado com o poder de alcance de sua doutrina com a nova tecnologia. O Vaticano também aderiu e a rádio oficial da Santa Sé oferece podcasts com comentários do papa Bento XVI.

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Nada como juntar o útil ao agradável. Sendo assim, já existe o podcast corporativo, com um tipo de propaganda capaz de atingir apenas o público-alvo da empresa. Maestro Billy também foi o pioneiro no Brasil, com um podcast para a cervejaria Heineken. “É mais barato do que uma propaganda e chega diretamente ao público que interessa”, diz Billy. Isso está virando uma prática comum nas empresas. Da Disney, passando pela revista Newsweek, até a IBM, várias empresas estão de olho nessa nova fatia de mercado. O site Yahoo! correu para oferecer uma ferramenta de busca exclusiva para vasculhar os podcasts.

Para compensar tamanho barulho, o bom e velho rádio se movimentou e estreou no final de setembro a transmissão de rádio em formato digital. “A rede AM ficou com qualidade de FM e a FM tem o som de um CD”, diz o radialista Edilberto de Paula Ribeiro, presidente da Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo (Aesp). Por lidar com informações em tempo real, ao vivo, há quem diga que o rádio convencional não será substituído pelo sistema de podcast. Pelo menos não por enquanto.

• O que é? – O podcast é um arquivo de áudio em formato mp3
transmitido pela internet. Ao contrário do rádio, nesse formato
cada um escolhe a programação que quer escutar


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