No fim do ano passado, o jogador Ronaldo teve de comparecer a uma clínica privada, em São Paulo, para um teste de reconhecimento de paternidade. Encolhido, no colo da mãe, estava Alex, um menino de 5 anos, fruto de uma relação casual em Cingapura. Aquela situação, que para muitos seria constrangedora, Ronaldo conseguiu driblar com facilidade. Abriu os braços, sorriu e abraçou o garoto – que é a sua cara – antes mesmo do resultado. E na semana passada, quando chorou ao anunciar a aposentadoria, era Alex, já plenamente integrado à sua família, quem lhe dava conforto. 

Gordo ou magro, fumante ou atleta, bom-moço ou adepto das grandes noitadas, Ronaldo não se encaixa em nenhum estereótipo. Ao longo dos seus 34 anos, ele sempre foi, essencialmente, Ronaldo. Um garoto feliz, de sorriso ingênuo e cativante, que talvez tenha sentido medo na final da Copa do Mundo de 1998, contra a França, mas que soube se superar quatro anos depois, diante da Alemanha. Inserido num negócio bilionário, regido pelo poder da imagem, Ronaldo nunca tentou ser “superman” ou “bad boy” para angariar simpatias. Sempre foi 
autêntico. Um ser humano normal, com virtudes e defeitos, mas com uma capacidade singular: a de rapidamente reconhecer seus erros. 

Foi assim que Ronaldo construiu a marca pessoal mais valiosa do Brasil – um dado já captado em estudos recentes do grupo WPP,
gigante global da publicidade. O jogador é um ímã financeiro, como foi para o Corinthians mesmo na ausência de títulos, porque transmite
valores como sinceridade, transparência e superação. A saga de um atacante que é dado como caso perdido para o futebol, ao ter seu joelho estatelado num jogo pela Inter de Milão, e que anos depois se torna o maior artilheiro de todas as Copas não caberia nem na melhor ficção hollywoodiana. Mas com ele aconteceu. 

Ronaldo inspira, Ronaldo comove e Ronaldo mobiliza as melhores energias de um país. Por isso mesmo, é a escolha mais adequada não apenas para representar os interesses de São Paulo na Copa de 2014, como de todo o Brasil. No fundo, ele deveria ocupar um papel que, em outros campeonatos mundiais, foi exercido por jogadores como Michel Platini e Franz Beckenbauer. E se as obras dos estádios ou dos aeroportos estão atrasadas,  Ronaldo pode ser um catalisador da mudança. Para ele, não existe aposentadoria nem existe um fim. Seu nome é recomeço.