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IMPLACÁVEL
Martha promete perseguir sem distinçãobandidos de pequeno e de grande porte

A mãe tem sobrenome Mesquita, o pai assina Rocha, e ela foi batizada Martha. Os pais são portugueses e, certamente, quando ela nasceu, em 1959, tinham o objetivo de dar à filha um nome que homenageasse um ícone da beleza e do charme da mulher brasileira: Martha Rocha. Quando a menina foi batizada, a ex-miss já era famosa no Brasil e no mundo e havia deixado de ser coroada em um concurso de beleza internacional por ter duas polegadas a mais nos quadris. Na última semana, as medidas físicas da homônima da miss pouco importaram para que ela fosse coroada chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro. “Claro que isso é um coroamento. Trata-se do cargo mais alto que pode ser alcançado por alguém que tenha optado pela carreira policial”, diz a delegada Martha Rocha.

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Tal qual a ex-miss, a delegada tem o habito de dar um toque feminino por onde passa. Nesse sentido, nem bem assumiu o cargo, já avisou que quer ter nas delegacias policiais “educados, gentis e barbeados”. “Gosto de ser recebida com gentileza e as pessoas que nos procuram também querem ser tratadas assim”, afirma. Mas, ao contrário dos dias de conto de fadas que costumam rondar o cotidiano das rainhas da beleza, o dia a dia da delegada Martha não tem o glamour das passarelas. Ela começou a vida profissional como professora de escola primária e diz que entrou na polícia “por acaso”, em 1983, como escrivã. Só sete anos depois é que conseguiu se formar em direito e iniciar a carreira de delegada. Solteira e sem filhos, Martha não esperava ser nomeada a xerife do Rio, como tem sido tratada pelos colegas. “Foi uma surpresa”, disse na quarta-feira 16. Apesar do espanto, a delegada Martha desfilou com competência pelas passarelas que ocupou na carreira policial. Escolhida pelo binômio “lisura – resultado”, como justificou o secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame, ela falou quais são as diretrizes que pretende impor: “O estilo Martha Rocha são metas, projetos e resultados. Eu quero fortalecer as delegacias de bairros, que devem ser o retrato da Polícia Civil.”

Dos seus 28 anos como policial, os últimos dois foram à frente de Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher, um de seus focos. “Tenho uma preocupação especial com essas delegacias e vou reforçar o efetivo que trabalha nessas unidades”, disse a delegada, que sempre usa saia, vestido e sapato alto. A delegada se define como vaidosa com moderação, assegura não se preocupar com grifes, mas admite que acompanha de perto o noticiário sobre o mundo da moda. As eventuais semelhanças com a miss terminam aí. A delegada promete um combate forte ao crime organizado e também ao desorganizado, aos bandidos de pequeno ou grande porte.

A nova xerife do Rio chega para arrumar a casa em meio a uma das maiores crises da Polícia Civil do Estado. Foi convidada após a exoneração do delegado Allan Turnowski – que não resistiu à enxurrada de acusações feitas contra ele depois da Operação Guilhotina, da Polícia Federal, que culminou com seu indiciamento por vazamento de informações. A escolha de Martha, no entanto, não será suficiente para dar um basta no processo autofágico desencadeado na instituição. Agora, policiais ligados ao ex-chefe de polícia devem apresentar ao Ministério Público do Estado uma testemunha (ainda anônima) para incriminar o delegado Cláudio Ferraz, diretor da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) e apontado como pivô da crise, porque teria fornecido informações à Polícia Federal para deflagrar a Operação Guilhotina.

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“Na hora da escolha, o nome dela foi unanimidade"
José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro

Antes de cair, Turnowski interditou a Draco e acusou Ferraz de extorquir prefeituras do interior do Estado. Ambos estão sendo investigados. Ferraz pela Cor­regedoria e Tur­nowski pela PF. A realidade repete o filme: a Polícia do Rio corta na própria carne, e no alto poder. Martha também já viveu um episódio como investigada, e foi inocentada. Em 1993, quando era diretora do Departamento de Polícia Especializada, seu chefe de gabinete e então namorado, o ex-delegado Inaldo Santana, foi preso sob a acusação de intermediar pagamento de propina de bicheiros ao então corregedor. Até nisso a mulher que foi chamada para fazer uma faxina na polícia fluminense tem experiência. E sabe que, nessas horas, o que não pode é varrer a sujeira para debaixo do tapete.