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FÁCIL
O humor usado pelos manifestantes para protestar (abaixo) não sensibilizou os deputados no plenário da Câmara 

No seu primeiro teste político no Congresso, o governo Dilma Rousseff repetiu o resultado das eleições do ano passado e atropelou a oposição. Graças à esmagadora maioria parlamentar que construiu nas urnas em outubro, aprovou o salário mínimo de R$ 545 com extrema facilidade. Por 361 votos a 120, os deputados rejeitaram, na quarta-feira 16, a proposta de setores oposicionistas que elevava o valor para R$ 560. Na votação do mínimo de R$ 600, o governo triunfou com folga ainda maior: apenas 106 parlamentares votaram a favor. Também foram residuais as dissidências na base aliada. De olho nos postos estratégicos nos ministérios, apenas 15 parlamentares governistas ousaram votar contra a orientação do Palácio do Planalto. “O resultado foi impressionante. A oposição não teve sequer o número de votos correspondentes ao tamanho da bancada”, comemorou o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

A vitória no Congresso, considerada uma questão de honra, dá a exata medida da força do governo e revela o acerto da estratégia do Planalto de suspender as negociações de cargos até a aprovação do seu projeto. Mesmo no governo Lula, poucas foram as ocasiões em que o Executivo mostrou tamanha autoridade. O enquadramento foi geral. Na véspera da votação, o Planalto advertiu que não iria admitir deserções ao anunciar que o parlamentar que não obedecesse ao governo seria tratado como oposição. “Se o PDT votar pelos R$ 560, o Lupi vai voltar a vender jornal”, disse o deputado Sílvio Costa (PTB-PE), referindo-se ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT.

Para evitar surpresas, os ministros partiram para o corpo a corpo com as bancadas. “Não basta a vitória. Temos que atropelar”, afirmou o ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, em conversas com parlamentares do PMDB. A ordem era massacrar a oposição. O governo avaliava que, se no primeiro embate, não obtivesse um placar altamente favorável, sairia enfraquecido para as discussões posteriores. Além de Palocci, participaram da mobilização os ministros da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho, de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, e o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. A própria Dilma entrou na operação, convocando Lupi para uma conversa. Até então, o PDT se mostrava sensível às pressões das centrais sindicais. “Lupi, vocês são governo, ocupam um ministério importante e precisam se comportar como tal”, deixou claro a presidente.

A pressão funcionou. E os discursos inflamados do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), da Força Sindical, caíram no vazio. Mesmo no PDT, falou mais alto o receio de desagradar ao governo. Dos 27 parlamentares da bancada, 16 seguiram a recomendação do Planalto. Já o PMDB, mirando em cargos do segundo escalão, aproveitou a votação do mínimo para marcar posição. “Essa bancada vai mostrar hoje sua cara”, discursou o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). O partido, que agora irá cobrar a fatura, deu ao governo 100% dos 77 votos. Nem o PT conseguiu tamanha proeza. Registrou duas dissidências: Eudes Xavier (CE) e Francisco Praciano (AM). De acordo com o líder do PT, Paulo Teixeira (SP), a decisão dos deputados de contrariar o governo terá “repercussões”. “Esses companheiros do PT cometeram um equívoco grave”, reforçou Vaccarezza.

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VAZIO
As centrais sindicais pressionaram até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas não conseguiram o que queriam

Em outra frente, a oposição insistirá, no Senado, pela aprovação do valor de R$ 600 para o novo mínimo. Mas tem consciência de que está jogando para a plateia, porque na Casa Alta a correlação de forças é altamente favorável ao governo. “Não podemos iludir a opinião pública de que vamos vencer”, afirmou o senador Itamar Franco (PPS-MG), para quem a política não tem segredos.

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