Não adianta saber a fórmula de Báscaras de cor e salteado. Nem estudar a da aceleração centrípeta até rachar. Quando chega a hora da
redação do vestibular, os aspirantes a universitários depararam com uma ciência vaga, complexa e alheia a teoremas. O hábito da leitura é o melhor ou, talvez, o único aliado do vestibulando nessa hora da prova. Justamente por isso, muitos morrem de medo de encarar o desafio que, no caso da Fuvest, corresponde a 50% do valor da prova de língua portuguesa. “Em se tratando de uma geração que quase não lê e quer tudo para ontem porque está acostumada com textos curtos e instantâneos como os da internet, o desafio é ainda maior”, explica a professora de língua portuguesa Marize Borges, do Colégio Pentágono. Já que o hábito da leitura não é uma coisa que se adquire de uma hora para outra, o importante nessa reta final, afirma a especialista, é ater-se aos detalhes que podem complicar ou facilitar a escrita (leia quadro ao lado).

Como a maioria das redações pedidas nas provas de vestibular é composta de textos auxiliares, ler atentamente o enunciado da proposta é o primeiro passo importante para quem quer se dar bem. Ater-se à pergunta e tê-la sempre como fio condutor da dissertação também é fundamental. Segundo a professora titular de metodologia da língua portuguesa da USP Maria Thereza Fraga Rocco, vice-diretora executiva da Fuvest, grande parte dos vestibulandos tem dificuldade de compreender a proposta. “Eles falam de tudo, menos do que se pede. Ficam dando voltas sem sair do lugar, ou migram para outra questão que não aquela sobre a qual deveriam dissertar”, diz. Pecam também pela falta de argumentos e se apóiam em falácias de autoridades que, muitas vezes, não têm ligação alguma com o tema em questão.

Professor de literatura, texto e redação do cursinho Anglo desde 1993 até o primeiro semestre deste ano, Frederico Barbosa, atual diretor da Casa das Rosas, conhece bem o fenômeno. Trabalhou cinco vezes como corretor de redação da Fuvest e deparou com algumas pérolas das falácias argumentativas. “Muita gente acha que para se dar bem basta citar algo que alguém importante disse ou escreveu. E, aí, erra feio. Me lembro de uma redação em que o tema era ‘tudo é relativo’ e 90% dos vestibulandos daquele ano começaram o texto citando a teoria da relatividade de Albert Einstein. Pode?”, comenta, indignado. Muitos cursinhos e colégios do ensino particular, acredita Barbosa, têm sua parcela de culpa na história. No afã de preparar o aluno para o vestibular, fazem-no crer que exista uma fórmula simples para redigir com sucesso. “Aí o aluno acha que é chique fazer citações, que é bacana usar ‘como’, ‘entretanto’, ‘todavia’. E quebra a cara no final. Nesse caso, imediatismos não funcionam. Escreve melhor quem lê mais”, sintetiza.