No grande teste do seu ainda infante governo, a presidente Dilma conseguiu uma vitória acachapante. Com cerca de 360 votos parlamentares, quase o triplo do número daqueles que votaram contra, ela conseguiu aprovar na Câmara a proposta de um salário mínimo de R$ 545. A prova de fogo – a batalha vital, como foi avaliada por seus assessores – serviu para medir quanto exatamente de apoio o Executivo terá no Congresso para dar fluxo aos seus projetos. Desde as eleições, apostava-se que Dilma contaria com um amplo arco de alianças partidárias, algo poucas vezes visto no meio político. Mas, de lá para cá, muitos observadores passaram a desconfiar da fidelidade dessa base. Listas de traidores chegaram a circular antes da votação. A pressão sindicalista, somada à busca da oposição por uma bandeira de luta – fosse qual fosse, não importando o interesse do País –, piorava o quadro. Mas no plenário verifi cou-se a sintonia absoluta da bancada pró-Dilma. Prevaleceu o bom-senso. A chefe de Estado fez valer sua autoridade com um recado claro: ou os políticos aliados estavam realmente ao seu lado ou contra – com todas as consequências advindas de cada uma das opções. Eles não poderiam simplesmente migrar de um lado para outro ao sabor de conveniências pontuais e pessoais. Com a mensagem entendida, Dilma pôde finalmente superar o populismo barato e o oportunismo corriqueiro que marcaram aquela Casa. O salário mínimo além do teto de R$ 545 seria um desastre de consequências agudas, ainda não completamente dimensionadas. Todos os brasileiros pagariam a conta e qualquer empenho ofi cial pela disciplina orçamentária iria pelos ares. O descontrole fiscal é um pesadelo que precisa ser evitado. Na ponta do lápis, cada R$ 1 adicionado ao mínimo representaria R$ 300 milhões de gastos a mais por ano com previdência e outras despesas. Uma bomba-relógio capaz de estourar as contas públicas. A austeridade buscada pelo governo demonstra seriedade nesse início de mandato e deve ser apoiada de maneira inequívoca por todos os setores da sociedade. Em especial pelo Legislativo, que teve sua imagem arranhada nos últimos tempos dado o pendor perdulário que pauta suas decisões.


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