As datas dos exames vestibulares se aproximam e muitos jovens continuam numa desconcertante indecisão. Apesar de a dinâmica do mercado de trabalho hoje indicar que um profissional pode migrar para várias áreas conforme sua especialização, na cabeça da moçada a faculdade ainda significa uma opção de carreira para o resto da vida. “Essa é a grande angústia. Os jovens sentem o peso de tomar uma decisão definitiva. Mas essa não é a realidade. A faculdade é uma porta para várias possibilidades”, afirma a psicóloga Rosângela Casseano, que trabalha com orientação profissional.

Já a psicóloga Sílvia Groberman, colaboradora do site Vestibular1, lembra que a dúvida é sempre saudável. “Faz a gente pensar, ir para a frente. O jovem deve olhar para sua história de vida, suas habilidades naturais e desfazer mitos. Quem faz o que gosta tem mais possibilidades de ser bem-sucedido”, aponta.

De qualquer forma, é uma decisão difícil numa idade precoce, em que ainda estão em vigor as turbulências da adolescência. Além disso, as possibilidades são muitas e não raro os interesses juvenis também, e às vezes parecem opostos. Um vestibulando pode gostar de biologia, mas também de informática e ficar assolado pela dúvida por não imaginar que as duas áreas se cruzam, por exemplo, na informática biomédica, curso oferecido pela Universidade de São Paulo. Por isso, a melhor dica é buscar o máximo de informação. “Ler sobre as profissões, observar o cotidiano e as exigências delas, conversar com profissionais das áreas de interesse, assistir a algumas aulas nas universidades e obter informações com os alunos sobre os cursos são meios de afinar a escolha”, aconselha o professor Roberto Costa, da diretoria da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), da Universidade de São Paulo (USP), que recebeu este ano 170.496 inscrições. Apesar de ser a universidade mais concorrida do País, a USP também apresenta índices de evasão: 15% em média, com cursos que chegam a 40%, como os de licenciatura de matemática e física. Os principais motivos são falta de perspectiva profissional, carência de habilidades especiais em carreiras como artes cênicas e imaturidade intelectual mesmo. “Muitas disciplinas exigem a leitura de autores difíceis e, no nosso ensino médio, os alunos se acostumam a ler resumos”, explica Costa.

Habilidades especiais e maturidade intelectual se conseguem com preparo, mas é possível driblar a falta de perspectiva profissional analisando o mercado. Hoje há uma profusão de cursos novos, como design e planejamento de games ou engenharia física. As áreas do conhecimento estão cada vez mais interligadas. Assim sendo, os cursos tradicionais – engenharia, química, física, matemática, biologia, direito e medicina – são ainda os mais seguros, só que acrescidos das novas demandas. O sociólogo e professor Wagner Horta, que há 15 anos publica o Guia das Profissões, detalha o que isso significa. “Tudo que se relacionar com reaproveitamento de água e conservação do meio ambiente estará em alta nos próximos anos. Também a pesquisa genética, na cidade ou no campo. Deve-se pensar em licenciatura para desenvolvimento de novas tecnologias”, diz ele. Temos então boas carreiras nas áreas de direito ambiental e internacional, geologia voltada para a busca de riquezas minerais e zootecnia, veterinária, agronomia e medicina, com ênfase em pesquisa genética. Na área de saúde, o atendimento aos idosos deverá ser cada vez mais requisitado. No campo, o desenvolvimento do agrobusiness exigirá administradores especializados.

Foco – As áreas de moda, turismo e gastronomia, que vêm há alguns anos ganhando espaço no mercado, continuam merecendo atenção. No entanto,
o professor Horta sugere um foco diferente. “Podemos pensar no turismo
curativo, voltado para o planejamento, a recuperação e o aproveitamento de
riquezas ambientais. Na moda, fugir do estilismo e voltar-se para o desenvolvimento de tecidos com materiais nacionais.” Outros segmentos em destaque são
os relacionados a bem-estar e beleza, como fisioterapia e nutrição ou desenvolvimento de cosméticos e fitoterápicos. Se não for possível unir todos
os interesses num curso de graduação, há sempre a possibilidade de fazer esse encontro na especialização. Afinal, o aprendizado contínuo é a tônica do mercado
de trabalho hoje.