O presidente Lula não gosta de CPI e não acredita em mensalão – mas está convencido de que existe urucubaca. “Vocês não sabem o que é urucubaca? É gente torcendo para que as coisas não dêem certo”, explicou o próprio a uma platéia de operários e marinheiros, na segunda-feira 10, em Niterói (RJ). Três dias depois, do outro lado do Atlântico, falando a uma platéia mais sisuda de empresários no Porto, Portugal, Lula tratou de espantar o ilusionismo que poderia azarar a economia: “O Brasil já teve muita pirotecnia, muitos mágicos, muitos planos que começaram à meia-noite e acabaram de madrugada. Em economia não tem mágica, tem responsabilidade e oportunidades. E o Brasil continua sendo uma grande oportunidade.”

Nos dois lados do oceano, a fala produziu uma boa mágica: arrancou gritos entusiasmados dos marinheiros no estaleiro, revivendo o coro de “Olê, Olê, Olá, Lula, Lulaáá”, e inflou entre os capitães da indústria portuguesa o velame da reeleição. O comedido Financial Times, bússola da armada capitalista mundial, entrou na onda e proclamou que a vitória de dois imediatos de Lula – Aldo Rebelo na presidência da Câmara e Ricardo Berzoini na presidência do PT – embicou a nau lulista na rota da vitória em 2006, depois de cinco meses de tormenta política no mar revolto do mensalão.

Uma pesquisa nacional do Instituto Databrain feita em 202 municípios de todos
os Estados brasileiros entre 8 e 10 de outubro passados, ouvindo 2.155 pessoas
por encomenda de ISTOÉ, confirmou que a urucubaca da política ainda está passando ao largo do governo, açoita o Congresso e poupa as CPIs. O Databrain descobriu que apenas 31,3% dos entrevistados concordam com o desejo de Lula
de encerrar agora as CPIs. A maioria, 63,3%, acha que elas devem continuar, inclusive prorrogando o prazo inicial. “Isto mostra que elas desfrutam de razoável credibilidade junto à população”, diz o presidente do Databrain, Carlos Roberto
de Oliveira.

Lula recheia seu discurso dizendo que o Brasil é o único país do mundo que funciona, normalmente, com três CPIs simultâneas, mas torce para que elas não atropelem seu calendário eleitoral – tanto quanto teme o populismo que pode arrastar a racionalidade econômica. “As coisas estão mais ou menos arrumadas”, disse ele em Niterói. Se o País continuar no rumo certo, disse Lula, com o boné de capitão na cabeça, o Brasil singrará um desenvolvimento sustentado que pode durar “de dez a 15 anos”. Em meio a tantos bons ventos, Lula aportou na Europa em meio ao vendaval da febre aftosa que manchou a bandeira do maior exportador mundial de carne. Lula não se abateu: “O Brasil nem tem vaca louca.” No atual contexto, Lula desconfia: febre aftosa num negócio de US$ 3 bilhões só pode ser a maior, a mais autêntica urucubaca.