Assista ao trailer:

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“Não li o livro e não quis conhecer a Raquel.
Criei minha Bruna a partir da leitura do roteiro”
Deborah Secco, atriz
 

Bruna Surfistinha – ou Raquel Pacheco, seu nome real – já era uma celebridade assídua em jornais, revistas e talk shows quando lançou, em 2005, o livro “O Doce Veneno do Escorpião”. Ex-prostituta, ela ganhou fama ao descrever suas aventuras sexuais em tom
de confissão e desabafo num blog muito visitado. Ser uma garota de programa era apenas um detalhe: o que seduzia era a revelação da intimidade. Desde então, sua popularidade só aumentou e agora chega às telas na estampa sensual de Deborah Secco, que a encarna no filme “Bruna Surfistinha”, em cartaz a partir da sexta-feira 25.

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Com uma estreia amparada em 400 cópias, estratégia reservada às grandes produções nacionais, o longa-metragem tem ambições de se equiparar ao livro, um best-seller à época de seu lançamento, e, como ele, surfar no sucesso. Para isso conta com o empenho e as formas perfeitas de Deborah, que, para surpresa dos espectadores, teve que disputar o papel com outras colegas. Ela se diz premiada com a escolha e parece não se importar em ficar marcada pela personagem: “Bruna é rica, cheia de nuances. Trata-se de uma grande oportunidade para qualquer atriz.”

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A trajetória de Bruna Surfistinha mostrou-se talhada para o cinema desde que ganhou as livrarias. Quem primeiro percebeu isso foi o próprio diretor do filme, Marcus Baldini. Antes mesmo de o livro ser lançado, ele leu os originais, emprestados pelo jornalista
e ghost writer Jorge Traquini, e viu ali uma espécie de conto de fadas urbano. “Parecia uma história de Cinderela, o retrato de uma garota que busca a sua identidade e o seu lugar no mundo”, diz o cineasta. Naquela época, Raquel Pacheco já era relativamente conhecida, mas Baldini nunca tinha ouvido falar dela. Hoje, acha que isso acabou sendo bom: “Li o livro sem uma ideia prévia e me interessei pelo que contava.” Só com os direitos autorais garantidos, procurou a autora, que foi receptiva desde o começo. “Raquel sempre foi parceira”, afirma o produtor Rodrigo Letier. E paciente: logo de cara, gravou mais de 15 horas de entrevistas para dar mais subsídios ao filme ainda em projeto.

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ENSAIOS
O diretor Marcus Baldini ao lado de Deborah discute o filme
com o elenco: um mês “fechados” em uma casa
 

Filha adotiva de uma família de classe média paulistana, a futura Bruna Surfistinha cresceu com problemas na escola e cheia de conflitos em casa. “Nas primeiras páginas do livro, já se fica sabendo que ela era cleptomaníaca, bulímica e consumidora compulsiva”, diz José Carvalho, um dos roteiristas, ao lado de Homero Olivetto e Antonia Pellegrino. O trio apostou num enredo que valorizasse os fatos importantes da vida de Raquel (hoje com 26 anos e casada com um ex-cliente), mas sem se prender
a detalhes biográficos. O vício em drogas, por exemplo, que a levou
a abandonar os pais, está lá. O marido em crise conjugal, que se apaixona por ela e tenta tirá-la da prostituição (personagem vivido por Cássio Gabus Mendes), também foi preservado. São situações reais. Mas passagens fictícias foram criadas com vistas a uma trama mais envolvente. Uma delas mostra o irmão de Bruna disfarçado de cliente. Ele vai até ao local onde ela faz ponto e a aborda com o intuito de humilhá-la.

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Embora passem por verídicas, tais licenças “poéticas” não incomodaram Raquel. “Ela entendeu que o filme não era biográfico, mas um olhar sobre a sua trajetória”, diz Baldini. A participação da autora, contudo, se limitou à condição de consultora e a uma ponta, como hostess de um restaurante. Nem mesmo na preparação de Deborah ela se meteu. “Não li o livro e não quis conhecer a Raquel. Criei minha Bruna a partir da leitura do roteiro”, diz a atriz. Deborah só encontrou a ex-prostituta perto do início das filmagens, que duraram nove semanas. Na preparação, passou uma temporada “internada” em uma casa em São Paulo com as outras atrizes que interpretam suas colegas. Sob a orientação do preparador Sérgio Penna, elas discutiram o roteiro, ensaiaram e foram estimuladas a “viver” situações do filme. “Só então fomos conhecer garotas de programa para buscar um olhar, um gesto”, diz Deborah. Agora, ao ver o filme pronto após cinco anos de produção, arrisca uma comparação com a personagem: “O que nos identifica é a fragilidade.”
E a coragem de embarcar numa boa onda.