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DA ESQUERDA PARA A DIREITA
Delúbio Soares, José Dirceu, Luiz Marinho, Olívio Dutra, José Eduardo
Dutra, Antônio Palocci, Luiza Erundina, Tarso Genro, Marta Suplicy,
Luiz Gushiken, Patrus Ananias, Lula, Jaques Wagner e José Genoino
 

O Partido dos Trabalhadores foi forjado pelos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, incorporou militantes da esquerda que combateram a ditadura militar, ganhou consistência com o apoio do meio acadêmico e agora chega à maturidade. Nas três décadas de vida, deixou o sonho revolucionário para trás, tornou-se pragmático e aprendeu a se coligar para governar, abrindo espaço no poder para as legendas aliadas. Graças ao realismo da política de alianças, fundamental para as vitórias em 2006 e 2010, o PT hoje pode se vangloriar de ser o partido que por mais tempo ocupou a Presidência da República, desde a restauração da democracia no País. Em 2011, o PT inicia o nono ano à frente do Executivo federal, um a mais que o PSDB, com garantias de chegar ao 12º em 2014 e perspectivas de ficar por até 16 anos no governo, em caso de reeleição da presidente Dilma Rousseff ou da volta de Luiz Inácio Lula da Silva.

Na quinta-feira 10, em Brasília, ao comemorar seu 31º aniversário, o PT deu demonstração de força, mas também de mudança. No auditório lotado do Sindicato dos Bancários, em Brasília, as lideranças petistas, entre antigos e atuais dirigentes, reuniram-se sob o comando do ex-presidente Lula, que reestreou na cena política com status de grande chefe partidário. E receberam em festa a presidente Dilma Rousseff, a quem coube cortar o bolo. Os discursos mostraram, no entanto, que as raízes ideológicas do PT ficaram num passado distante. No próprio pronunciamento de Lula, prevaleceu o tom objetivo, com a mira assestada na próxima eleição. “É importante que a gente comece a discutir agora o que vai querer para 2012. Não deixar cada um lançar seus candidatos para depois tentar consertar, porque nós sabemos que não dá certo. Precisamos começar já a maturar as alianças que nós precisamos fazer”, afirmou Lula, que foi guindado novamente à presidência de honra do PT.

Apesar de ter sido importante para a chegada e permanência do PT no poder, o receituário mais pragmático trouxe também, além de uma dívida que hoje soma mais de R$ 50 milhões, outros dolorosos custos ao partido, que nasceu sob o signo da ética e do combate à corrupção. Entre as feridas estão o escândalo do mensalão e a adesão, quase quase automática, às velhas práticas combatidas ferrenhamente pelo partido até a virada do século, como a troca de favores e o fisiologismo. Assim, o PT passou a ser identificado não pelo que pregava na oposição, mas pelas tradicionais formas de fazer política no País. Os petistas reconhecem que mudar a percepção de que o partido passou a fazer parte da geleia geral é um dos objetivos para o futuro, sob pena de o PT desidratar quando deixar o poder. “É hora de revigorar nossos princípios, nossa forma de organização, para que o partido não perca a sua vitalidade e fique só refém da posição no poder. Precisamos fortalecer nosso processo de debate”, prega o governador da Bahia e um dos pensadores da legenda, Jaques Wagner.
Outra consequência da nova fisionomia do PT foi a perda de sua força nas cidades médias e grandes. Nas eleições municipais de 2008, por exemplo, apesar da alta popularidade de Lula, o partido saiu derrotado em importantes capitais, como São Paulo, Porto Alegre e Salvador. Em paralelo, vem ocorrendo a gradual despaulistização da legenda. Até 2002, 52% dos eleitores petistas se concentravam no Sudeste. Em 2010, esse índice caiu para 42%. Já no Nordeste, o movimento foi inverso. Eram 18% em 2002, passaram para 24% em 2006 e chegaram a 26% em 2010. No Norte, a militância dobrou de 4% para 8% em oito anos. “Com Lula no poder, o fortalecimento do PT se deu nos Estados onde foi maior o impacto das políticas sociais do governo – das quais o carro-chefe é o programa Bolsa Família”, diz o cientista político Jairo Nicolau. Obviamente, a nova balança regional também se reflete no comando do partido, com peso maior de dirigentes do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia.

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JUIZ
Novamente no posto de presidente de honra
do partido, Lula terá como missão apaziguar os
ânimos das correntes e unir o PT em torno de Dilma

Nesse movimento, tombaram pelo caminho importantes líderes do partido, como o ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e os ex-presidente e secretário-geral da legenda José Genoino e Silvinho Pereira. Agora, na fase mais madura, eles tentam trilhar o caminho de volta. Dirceu, aos poucos, retoma sua influência. Na quinta-feira 10, horas antes do ato público que comemorou o aniversário, o PT decidiu encampar uma mobilização nacional em defesa do ex-chefe da Casa Civil, já que o processo do mensalão deve ser julgado este ano pelo Supremo Tribunal Federal. “Nada provaram contra mim. Nem mesmo a acusação mais grave, de formação de quadrilha”, insistiu o ex-ministro. Expulso em 2005, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares também luta pela reabilitação. Deve ser refiliado à legenda na próxima reunião do diretório nacional, marcada para março (leia quadro abaixo). Ele argumenta que pagou pelos equívocos políticos que cometeu e não pode ter uma pena eterna. Silvinho, que apenas se desfiliou, pode voltar a integrar a legenda quando bem entender. “Acho um absurdo fazer julgamento sobre comportamento de companheiros que estiveram sempre na luta política. As pessoas são inocentes até prova em contrário”, disse o vice-presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão (SP). Mas no caso de Silvinho, apesar de a reintegração ser mais simples que a de Delúbio, há maior resistência interna pelo fato de ele ter tido ganhos pessoais no processo do mensalão.
Em meio ao contraste entre o passado e o presente, o PT também enfrenta o desafio de unificar todas as correntes e conciliar as ambições pessoais. Com seu carisma e sua ascendência histórica sobre os companheiros, Lula, na Presidência da República, sempre foi um fator de coesão no partido. A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, ainda está aprendendo a lidar com a complexidade petista e, além disso, não se mostra disposta a interferir nas disputas internas do PT. Não por acaso, o ex-presidente continuará exercendo papel fundamental no dia a dia da legenda. “Caberá a Lula a tarefa de convencer as tendências a trabalharem em conjunto com o governo”, diz o secretário de comunicação, André Vargas. É sabido que a eleição do deputado Marco Maia (PT-RS) para a presidência da Câmara mostrou divisões agudas na cúpula do partido. Houve bate-bocas e traições. O clima não é bom. Na disputa por cargos estratégicos nas Comissões da Câmara, na última semana, dois pesos-pesados petistas quase saíram no braço. Lula terá muito trabalho pela frente.

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Colaborou Hugo Marques


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