Alice Braga tinha uns cinco anos quando começou a frequentar sets de filmagem, acompanhando a mãe, Ana Maria, que dirigia comerciais. Entretinha-se com as palhaçadas de Ronald McDonald, o garoto-propaganda da rede de lanchonetes, mas também divertia quem estivesse no estúdio com sua tagarelice. Era carismática e logo passou para a frente das câmeras. Da publicidade para o cinema foi um pulo. Hoje, aos 26 anos, vive em dois mundos: é pouco conhecida no Brasil (onde nunca fez novela), mas é a atriz brasileira mais bem-sucedida em Hollywood.

Está em cartaz atualmente com o filme Território restrito, no qual contracena com um ídolo da infância: o Indiana Jones, Harrison Ford. Já contracenou com Will Smith, Danny Glover, Mark Ruffalo, Julianne Moore e Jude Law – e se prepara para rodar em junho com Mickey Rourke uma adaptação de Onze minutos, livro homônimo de Paulo Coelho. "Nunca busquei a carreira internacional. Queria fazer cinema. Aconteceu", diz. Quem a conhece afirma que tanto sucesso se deve não só ao talento, mas àquele jeito falante e atirado que Alice nunca perdeu. "Ela não tem medo. Se joga. No caso dela, nunca precisei pedir", diz o cineasta baiano Sérgio Machado, que a dirigiu em Cidade baixa (2005).

Esse filme – no qual interpretou uma prostituta – lhe rendeu prêmios no Brasil e no Exterior. O de melhor atriz no Festival de Verona, na Itália, nem existia: foi criado especialmente para ela. Mas foi três anos antes, com um papel pequeno em Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, que Alice estreou no cinema e se fez notar. O diretor já havia trabalhado com ela em comerciais – e se lembrou de "Lili" na hora de escalar o elenco. "Sua foto no pôster americano de Cidade de Deus chamou a atenção de uma agente em Los Angeles. Como tem carisma, vontade e talento de sobra, o resultado está aí", diz Meirelles, orgulhoso do sucesso dela.

A tal agente levou seis meses até encontrar Alice, pois pensava que ela morava em alguma favela carioca. Ainda não sabia que era "paulistana da gema", já que nasceu e sempre viveu em São Paulo. Ela divide um apartamento com a irmã, a produtora Rita Moraes. A atriz tem medo de avião, mas agora depende muito dele. "Sempre que dá eu volto, nem que seja para ficar só alguns dias. Não pretendo sair de São Paulo", diz. Quando está na cidade, ela passa boa parte do tempo com os parentes. "Gostamos de sair para passear com os cachorros", conta o pai, o jornalista e professor Ninho Moraes, 52 anos. "Ela é muito grudada com a gente. Se não pode nos visitar, nós vamos visitá-la. Na época em que filmava Eu sou a lenda (com Will Smith), ela não podia vir porque estava proibida de pegar sol ou engordar. Então fui encontrá-la nos EUA."

Para não destoar do cenário apocalíptico do filme Eu sou a lenda, passado numa Nova York completamente desabitada, Alice e Will Smith precisaram fazer uma dieta rigorosa durante oito meses. A atriz, de 1,62 metro de altura, chegou a pesar 46 quilos. Nunca esteve tão magra. Do tipo mignon, Alice cresce diante das câmeras. "Sou a brasileira que não é típica. Não tenho o corpo da minha tia", brinca, referindo-se à atriz Sônia Braga, irmã de sua mãe, conhecida também pelas curvas. As comparações com a tia famosa não a incomodam. Pelo contrário. "A primeira atriz a fazer sucesso no Exterior não fui eu. A pioneira foi ela. Por isso tenho muito orgulho de ser sua sobrinha", afirma.

Tampouco está preocupada com a tendência de ser lembrada por seu tipo latino – e cita o caso de Repossession mambo (ainda sem título em português), em que contracena com Jude Law e Forest Whitaker. Sua personagem não era originalmente latina. "No teste só havia atrizes louras, porque a personagem, no roteiro, era loura. Mas fiz mesmo assim e passei", diz. Segundo ela, a indústria cinematográfica americana está cada vez mais aberta aos atores estrangeiros. A fluência no inglês ajuda. A cada filme, se prepara mais: "Treino para soar natural."

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Alice está feliz. Mas não exatamente realizada. "Tenho muita coisa para fazer ainda", diz. Televisão, por exemplo. Fora uma pequena participação na série Carandiru, outras histórias, da Rede Globo, só tem filmes no currículo: "Quero fazer tevê, não necessariamente uma novela. Pode ser uma série ou uma minissérie." Convites não faltam. A própria Rede Globo não cansa de assediá-la. A atriz não ganhará em dólar, mas conquistará algo que, admite, o cinema americano ainda não foi capaz de lhe dar: o status de celebridade nacional. "Não sou tão reconhecida na rua. Gosto que falem comigo. Podem me abordar, viu?

Eu gosto!", diz. Recado dado.


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