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O estilo parece oposto ao de seu antecessor. Enquanto dom Eusébio Scheid, 76 anos, arcebispo do Rio de Janeiro desde 2001, era afeito a declarações ferinas e polêmicas, dom Orani João Tempesta, 58, que assume o posto no dia 19, se mostra bastante comedido em seu discurso. No meio religioso, o arcebispo, nascido em São José do Rio Pardo, São Paulo, é tido como moderado e de caráter conciliador e atento aos processos de modernização da Igreja. Adepto das inovações tecnológicas, ele está sempre conectado. Carrega um celular do tipo iPhone para responder a mensagens de texto e e-mails. Também navega pela internet, se comunica por aplicativos de troca de mensagens instantâneas, tem um telefone que funciona com voz sobre IP em seu escritório e baixa músicas pela internet. Dom Orani reza na cartilha das novas mídias para evangelizar. "Os aspectos negativos desses recursos existem, mas podemos usálos para o bem", prega. À frente da arquidiocese de Belém (PA) desde 2004, ele agora assume uma das arquidioceses de maior interesse estratégico para a igreja católica no País.

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EVANGELIZAÇÃO Dom Orani, que é paulista, esteve à frente da diocese de Belém, Pará (abaixo). Agora assume um dos postos-chave da Igreja brasileira

"O escolhido precisava ser um bom comunicador, ter diálogo com o mundo das artes, da cultura e do esporte", ressalta dom Filippo Santoro, bispo da diocese de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Em dezembro de 2007, dom Eusébio Scheid renunciou por ter completado 75 anos – norma do direito canônico. Entre os muitos desafios que aguardam o novo arcebispo está a "superficialidade da vivência da fé", já adiantou seu antecessor. Hoje, a evangelização é uma das preocupações da instituição, que perde fiéis para outras doutrinas. Segundo Sílvia Fernandes, pesquisadora de sociologia da religião da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a Igreja Católica vive um dilema: abrandar suas convicções para abraçar mais fiéis ou enrijecê-las e reforçar sua identidade.

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"A modernidade interpela o catolicismo, mas ele costuma demorar a absorvê- la", observa Sílvia. Dom Orani afirma que vai enfrentar a diversidade religiosa com respeito. Já para a pobreza e a falta de segurança, reclama um esforço de toda a sociedade. "Não há solução a curto prazo." Para as velhas polêmicas da Igreja, como o direito ao aborto e os limites entre religião e ciência, fecha com o Vaticano. Seria modernidade demais para um bispo católico só.