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O promotor de vendas Olavo Dahlskjaer, 23 anos, acorda às 5h30 todos os dias para trabalhar. Morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, ele enfrenta a superlotação habitual nos trens em que costuma viajar até chegar ao serviço, no bairro da Taquara. Na quarta-feira 15, Dahlskjaer adiantou o despertador em meia hora. Temia chegar atrasado por causa de uma greve parcial dos ferroviários do Estado. Infelizmente, seu esforço só o levou a apanhar. O jovem tentava descer na estação de Madureira quando recebeu socos, pontapés e "chicotadas" – dadas com um cordão de apito – justamente de quem deveria garantir a ordem e a integridade das pessoas, os agentes de controle da SuperVia, empresa que administra o transporte ferroviário.

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Dahlskjaer não foi o único. Até idosos e gestantes foram espancados na confusão: de um lado, o povo tentando entrar nos vagões apinhados de gente; de outro, os agentes forçando o fechamento das portas. "Me senti como um animal", resume Dahlskjaer, um dos dois cidadãos que prestaram queixa na polícia contra os agressores. Esse detalhe também chama a atenção: apenas duas pessoas tiveram motivação para denunciar. As demais, apanharam injustamente e seguiram cada qual o seu caminho.

Apenas os quatro seguranças flagrados nas imagens foram demitidos. "Investigaremos internamente as responsabilidades e aplicaremos mais punições, caso seja necessário", disse à ISTOÉ o presidente da SuperVia, Amin Murad. "Os agentes não estavam preparados para situações de stress extremo", tentou justificar. A Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários e Metroviários e de Rodovias do Rio investiga as agressões e poderá recomendar a suspensão do contrato com a Super- Via. Segundo a Lei de Concessões, é dever das empresas que exploram concessões prestar serviço com segurança e cortesia. O Ministério Público também vai apurar as denúncias.

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"Os trens deveriam ter um mecanismo que impedisse o deslocamento com as portas abertas", reclama o promotor Julio Machado Teixeira da Costa.

A paralisação dos ferroviários, que terminou um dia após a barbárie, era para pedir, também, segurança para funcionários e passageiros, que pagam R$ 2,45 a passagem. O delegado Júlio da Silva Filho, da delegacia de Madureira, afirma que os agressores poderão responder por lesão corporal leve, crime cuja pena é de um ano de prisão. "Mas normalmente ela é convertida em multa ou serviços comunitários", explica.