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VISÃO PRIVILEGIADA
Com sua altíssima precisão, o satélite vai orbitar a Terra
e medir quais impactos partículas microscópicas
e a radiação solar causam na atmosfera
 

Em 2007, o IPCC, painel das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, anunciou que a Terra estava caminhando aceleradamente para o caos ambiental. Para aumentar o terror, previu que o gelo das montanhas do Himalaia derreteria totalmente até 2035. No ano passado, pensando melhor, a previsão catastrofista foi revista e, pelo jeito, a cordilheira não perderá a sua cobertura gelada.

Os dados que serviram de base para a argumentação original não passaram de palpites a respeito do comportamento planetário. Esses “chutes” podem estar com os dias contados.

No dia 23 de fevereiro, a Nasa lança ao espaço a missão Glory, que promete acabar com cálculos nebulosos sobre o aquecimento global. O satélite da agência espacial americana custou US$ 424 milhões, vai orbitar a Terra e terá duas missões. A primeira é coletar informações sobre as propriedades químicas, físicas e óticas de micropartículas que circulam ao redor do globo, conhecidas como aerossóis (veja quadro). A segunda tarefa será medir com precisão microscópica a incidência de radiação e luz solar sobre o planeta. Com isso a Nasa planeja determinar com exatidão o quanto do caos climático é consequência direta da ação da natureza ou de obras humanas, como a poluição e a devastação dos ecossistemas. “O satélite vai fornecer dados que possibilitarão aos pesquisadores entender e quantificar as causas humanas e naturais das mudanças climáticas. Isso vai aumentar nossa capacidade de prever o futuro e de montar cenários hipotéticos que serão muito úteis para determinar as políticas futuras”, explica o cientista Hal Maring, coordenador do programa de ciências da radiação da Nasa e membro do projeto Glory.

As medições mais complexas feitas pelo satélite dizem respeito aos aerossóis. No Brasil, eles eram sinônimo de CFC (clorofluorcarboneto), substância que causa danos à camada de ozônio e até os anos 90 estava presente em sprays e refrigeradores. Mas o conceito vai além. A professora Maria de Fátima Andrade, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, explica que em inglês há até termos diferentes para aerossóis com características diversas. Um dos fatores de diferenciação é o tamanho e, quanto menor as substâncias, mais nocivas elas são ao organismo humano, porque penetram mais profundamente nos pulmões. Outro fator é a procedência. “Os aerossóis naturais, como o sal marinho ou a poeira que vem da terra ou de desertos, são maiores em termos de massa. Mas os produzidos pelo homem, por serem menores, são em maior número”, explica Maria de Fátima. A questão é que nem tudo é bem delimitado no clima. Além de as substâncias se influenciarem e interferirem mutuamente, existem fontes de poluição naturais, como os vulcões. Com o Glory, pela primeira vez os cientistas esperam poder separar o joio do trigo.

As conclusões enviadas pelo satélite podem ser um incentivo para governos adotarem posturas mais rígidas de combate ao aquecimento global. É isso que esperam os ambientalistas. “Se tivermos essa análise precisa, será mais fácil exigir medidas concretas”, afirma Nicole Oliveira, coordenadora de campanha do clima do Greenpeace no Brasil. Mesmo assim, ela desconfia que essa seja apenas mais uma desculpa para adiar ações. Mas o envio do satélite não deixa de ser uma ação, a primeira do governo de Barack Obama que vai muito além da retórica quando o assunto é aquecimento global.

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