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É possível disputar o Oscar quando sua identidade é desconhecida? Autor de “Exit Through the Gift Shop”, indicado ao Oscar de melhor documentário, o notório artista britânico Banksy, cuja verdadeira identidade é um mistério, foi um dos poucos a cruzar a ponte entre a arte de rua e a das galerias. Ele é conhecido por seus stencils, (técnica de ilustração com aerossol, aplicada em superfície através de uma máscara recortada em papel ou acetato), mas também realizou diversos objetos artísticos. Banksy é acima de tudo um pregador de peças e isso pode ser visto tanto em seus trabalhos de temática pacifista e iconoclasta quanto no uso de símbolos de consumo capitalista. Após atuar como um justiceiro das artes, ele consegue ser o primeiro diretor anônimo indicado a um Oscar.

Mas Banksy não protagoniza esse seu primeiro trabalho como diretor, produtor e distribuidor. Seu foco de interesse não está nem mesmo em outros artistas de rua, mas na figura peculiar de Thierry Guetta, francês, ex-proprietário de uma lojinha de presentes baratos em Los Angeles. Durante anos a fio, Guetta documentou exaustivamente a atividade de artistas de rua, reunindo um material precioso para uma possível história da street art. Seu sonho era registrar em vídeo o Santo Graal da arte de rua em ação: o próprio Banksy. De fato, o francês se tornou o primeiro cinegrafista a realizar imagens do artista anônimo trabalhando. 

O filme poderia ser entendido como um documentário sobre as proezas de Thierry Guetta como cinegrafista oficial da arte de rua. Mas é mais imprevisível que isso. Após declarar que a figura do francês “acabou tornando-se mais interessante” do que fazer um filme sobre si mesmo, Banksy pede que Guetta edite o documentário. O resultado é desastroso e então o britânico aconselha Guetta a se tornar um artista. Da noite para o dia, o francês se transforma em Mr. Brainwash, um artista amador que metralha sua arte em Los Angeles. O filme é um forte concorrente do documentário “Lixo Extraordinário”, sobre a obra de Vik Muniz. Poderia, no entanto, ter sido indicado ao Oscar de melhor filme, já que tudo nesse documentário parece tratar-se de ficção – a serviço de uma ácida crítica aos sistemas de consumo culturais.

 
Nina Gazire