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VIGÍLIA
Para economistas, países em desenvolvimento precisam redobrar
a atenção para evitar a disparada inflacionária
 

Por muitos anos, o Fórum Econômico de Davos foi realizado em clima de festa. Ali costumava se discutir até quando se estenderia o ciclo de prosperidade internacional. A partir da crise de 2008, o clima do famoso resort suíço mudou. Ficou mais austero e sombrio. As principais lideranças da economia mundial passaram a se debruçar sobre temas espinhosos como os gargalos do crédito bancário e a necessidade de regulamentar com mais rigor o sistema financeiro. Na reunião deste ano, uma nova preocupação veio à tona: a escalada da inflação, pela primeira vez, tomou conta dos debates. Teme-se que a alta dos preços das commodities contamine as economias nacionais, sem distinguir entre países desenvolvidos, emergentes e pobres. Afinal, a tendência inflacionária está criando dor de cabeça para autoridades de Pequim a Nova Délhi. Todos consideram que a alta dos preços dos alimentos pode pôr em xeque até mesmo a estabilidade social. “As commodities sobem puxadas pelo forte crescimento dos emergentes e o impacto na inflação é enorme”, advertiu, em Davos, o economista americano Nouriel Roubini, que ganhou fama ao prever a derrocada do sistema bancário.

Também preocupado com a inflação, o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, argumentou que o aumento generalizado das commodities elevará a pobreza e a fome com graves consequências nas políticas sociais. “A próxima guerra econômica pode envolver os preços dos alimentos”, afirmou. A inflação da Indonésia em 2010 foi de 6,95%.

Os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), que são responsáveis por um quinto da atividade econômica do planeta, também correm séria ameaça. Se de um lado o crescimento do consumo nesses países contribui para a alta dos preços, de outro lado eles têm a economia prejudicada pela retomada da inflação. A China é o principal exemplo desse contraste. O país continua a exibir taxas de crescimento espetaculares, mas viu a taxa anual de inflação subir de 0,7% em 2009 para 4,6% previstos para este ano.
As populações de países pobres e emergentes são as que mais sofrem com o aumento do preço dos alimentos, que representam uma parcela maior na composição da inflação do que nos países desenvolvidos. Enquanto nos Estados Unidos a alimentação compõe apenas 16% do Consumer Price Index, por exemplo, no Brasil são 23%, na China 35% e na Índia 42%.

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RETORNO
Fantasma do aumento de preços volta a rondar a economia mundial

No ano passado, o custo dos alimentos subiu a níveis assustadores. O índice de preços da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que mede cereais, carnes e laticínios, entre outros, sobe desde julho de 2010. Em novembro passado chegou a patamares recorde. “Preços mais altos de alimentos e volatilidade são as maiores ameaças para a recuperação da estabilidade econômica e social. Você viu o que aconteceu na Argélia e em outros países recentemente?”, diz Ngozi Okonjo Iwela, diretora-geral do Banco Mundial e ex-ministra das Finanças da Nigéria, referindo-se às manifestações de estudantes e trabalhadores argelinos contra o aumento de preço de itens básicos. Os Brics, na verdade, não estão de braços cruzados. O Brasil deu início a uma nova rodada de alta dos juros e restringiu o crédito. A China também elevou os juros, valorizou ligeiramente a moeda e tomou medidas contra a especulação de preços de alimentos. O Banco Central indiano adotou o mesmo remédio, depois que as expectativas com a safra de arroz não se confirmaram. E a Rússia também iniciou sua política de aperto monetário. Claro que essas medidas vão cobrar seu preço. Os Brics deverão crescer menos em 2011 em relação a 2010.

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Em sua intervenção em Davos, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, alertou para as pressões inflacionárias na zona do euro. No mês passado, a inflação passou para 2,2%, ficando pela primeira vez nos últimos dois anos acima da meta de 1,9%. Há previsões de que pode chegar a 2,5% em março. Trichet disse que a inflação deve ser observada de perto e pediu aos banqueiros centrais para ficarem atentos ao aumento dos preços da energia e dos alimentos. O Brasil mostrou que tem feito sua lição de casa. Na mesa-redonda sobre a economia brasileira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que a principal prioridade do BC é manter a inflação dentro da meta e reafirmou o compromisso com a austeridade. Mesmo antes de pisar em Davos, Tombini já sabia que a inflação é o vilão do momento. 
 

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