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UNIDOS
Eduardo Requião (à esq.)
com o senador eleito: defesa no Twitter
 

Há problemas em Paranaguá, o maior porto graneleiro da América Latina, e não se trata apenas de desvio de mercadoria. Superintendente do porto situado no litoral do Paraná entre 2003 e 2008, Eduardo Requião, irmão do senador eleito e ex-governador Roberto Requião (PMDB), é acusado de ser o maior beneficiário de um esquema envolvendo propina de US$ 5 milhões na compra de uma draga importada da China. A negociata foi descoberta pela Polícia Federal durante monitoramento de telefones feito para investigar denúncia de desvio de mercadorias no porto. “A draga foi uma surpresa”, afirma Jorge Fayad Nazário, delegado-chefe da Polícia Federal em Paranaguá. “O negócio não se concretizou, mas o simples fato de solicitar propina já caracteriza o crime de corrupção passiva.”

Além do acerto para a propina – a parte de Eduardo Requião totalizaria US$ 2,5 milhões –, as interceptações telefônicas detectaram a existência de um amplo esquema de corrupção e de contratação direcionada de empresas. Acusado de participação direta na maior parte das irregularidades, o superintendente que sucedeu Eduardo Requião, Daniel Lúcio Oliveira de Souza, foi preso no Rio de Janeiro e transferido para o Paraná na terça-feira 25. Sua prisão ocorreu durante a chamada Operação Dallas, que cumpriu 29 mandatos de busca e apreensão, inclusive em propriedades de Eduardo Requião. Em uma delas – uma casa no Rio de Janeiro –, a polícia encontrou R$ 140 mil em espécie e apreendeu farta documentação, além de armas.

Eduardo Requião só deve ser intimado a depor no inquérito depois que os documentos apreendidos durante a Operação Dallas forem analisados e os dados cruzados com as informações obtidas durante o monitoramento telefônico, que durou seis meses. Nem ele nem o senador eleito falam à imprensa sobre as investigações, mas Roberto Requião postou em seu Twitter o seguinte comentário: “A tentativa de envolver Eduardo Requião em escândalos no Porto é descabida, desde outubro de 2008 ele estava fora.”

Antes de a operação ser desencadeada, a Polícia Federal requisitou à Justiça a prisão de Eduardo Requião. Embora tenha indeferido o pedido, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva ressaltou que fatos relativos ao ex-superintendente mereciam ser investigados, como a “menção a remessas ilegais de altas somas em dinheiro feitas por ele para contas bancárias no exterior, bem como de que mantinha em casa, sem comprovação de origem, o montante de US$ 2 milhões”. Para complicar ainda mais o cenário, na quinta-feira 27 a imprensa do Paraná trouxe à tona denúncias do engenheiro Leopoldo Campos, demitido do porto em 2007, após denunciar ao então governador Roberto Requião a existência do esquema de corrupção. De acordo com o engenheiro, de lá para cá, a única novidade para ele foi a operação envolvendo a draga chinesa. Como os acusados, o antigo denunciante também será chamado para prestar depoimento no inquérito que apura a cabotagem suspeita no Porto de Paranaguá.

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