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REDE
Por meio do Facebook, 30 mil pessoas responderam
à convocação de um protesto pela saída
do egípcio Mubarak
 

Tudo leva a crer que o mundo árabe nunca mais será o mesmo depois que uma série de protestos na Tunísia levou à queda do general Zine El Abidine Ben Ali, que estava havia 23 anos no poder. O exemplo da Tunísia teve o efeito de um rastilho de pólvora nos países da região, atingindo em cheio o Egito, e o Iêmen, com repercussões na Argélia e na Jordânia. O efeito dominó ameaça criar problemas para os governos de Sudão, Omã e Mauritânia. “As massas árabes estão frustradas e zangadas em toda parte”, diz o secretário da Liga Árabe, o ex-chanceler egípcio Amr Moussa. A insatisfação vem de longe, mas a mobilização de milhares de pessoas só foi possível graças à internet, especialmente a página de relacionamentos Facebook e o microblog Twitter. O uso generalizado das novas tecnologias serviu não só para informar o resto do mundo sobre fatos que poderiam ser abafados pelos governantes como também para convocar ainda mais manifestantes.

O fenômeno coincide com a divulgação pelas Nações Unidas de um relatório indicando que já existem dois bilhões de internautas e 5,3 bilhões de assinaturas de celulares em todo o planeta. A crise na Tunísia foi uma espécie de divisor de águas. O sucesso dos protestos convocados pela internet serviu de inspiração para movimentos semelhantes no resto da região. No Egito, onde existem 23 milhões de internautas e mais de 65 milhões de celulares – numa população de 80 milhões de habitantes, a convocação de protestos populares pela rede social teve um impacto avassalador. Na terça-feira 25, cerca de 30 mil pessoas tomaram o centro do Cairo e de outras cidades, como Alexandria e Suez, na maior manifestação já enfrentada pelo regime de Hosni Mubarak em três décadas de governo. Para complicar, o líder da oposição, o vencedor do Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, retornou ao Egito e promete liderar o movimento que pede a saída de Mubarak do poder.

“O que aconteceu no Egito foi quase totalmente organizado no Facebook”, explica o cientista político Iskander al Amrani, que também é blogueiro. O chamado “Movimento 6 de abril”, criado em 2008 por ativistas pró-democracia, lançou alguns dias antes das manifestações uma espécie de enquete no site de relacionamentos com a pergunta: “Você vai protestar em 25 de janeiro?” O resultado é que quase 90 mil pessoas responderam “Sim” na web. Numa tentativa desesperada para impedir novos protestos, o governo de Mubarak bloqueou o acesso ao Facebook e ao Twitter e os celulares tiveram falhas de sinal na região da praça Tahrir, no centro do Cairo. A secretária de Estado americano, Hillary Clinton, fez um apelo contra a censura. Já o grupo de hackers “Anonymous”, que derrubou os sites de bancos e instituições financeiras em defesa do Wikileaks, ameaçou retaliar. Na quinta-feira 27, o Iêmen também experimentou uma inédita pressão popular contra o governo de Ali Abdullah Salleh.

Para Amr al Shobaki, cientista político do Instituto Al Ahram, por trás da agitação de tunisianos, egípcios e iemenitas estão questões fundamentais como o desemprego, a inflação e a corrupção política. As mesmas razões já motivaram protestos pontuais na Argélia e na Jordânia. “Os árabes vêm sendo reprimidos há muito tempo e estão ansiosos por mudanças”, diz Amr Hamzawy, diretor de pesquisa do Centro Carnegie para o Oriente Médio em Beirute. “Governantes na Mauritânia, Líbia, Marrocos, e Síria também estão apreensivos e temem ser os próximos.” O cientista político tunisiano Sami Al-Buhairi vê na onda de protestos “uma nova e promissora era” para o mundo árabe. “Os líderes árabes têm boas razões para estar com medo.” Principalmente quando o povo interage e seu une com o celular na mão e o acesso à internet.

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