Barack Obama não é o paladino de uma nova era econômica americana, como quiseram fazer crer  seus aliados, nem tampouco o redentor global que veio arrumar a diplomacia intercontinental após a desastrosa gestão do antecessor Bush. Pela segunda missão torciam os paísesparceiros, mas devem desistir da ideia diante do que disse na semana passada esse “líder do mundo livre” no seu já tradicional discurso anual sobre o Estado da União. Obama foi direto. Conclamou seus conterrâneos a lutarem por mais espaço econômico no bolo da riqueza planetária. Falou da necessidade de vencer a competição com os emergentes. Estabeleceu o atual desafi o como “o momento Sputnik de nossa geração”, numa referência ao desenvolvimento acelerado dos EUA pós-briga com os russos pela hegemonia espacial. “O que está em jogo é se novos empregos e indústrias se enraizarão neste país ou em algum outro lugar”, afi rmou. Com o objetivo de puxar a corda para o seu lado, defendeu mais investimentos na área da inovação. Alvo número 1: energia limpa. E nesse campo o adversário direto é o próprio Brasil com a sua tecnologia avançada do etanol. A queda de braço já está armada e os brasileiros devem se preparar para mais protecionismo e mais subsídios a produtores locais naquele país. Obama, claro, vai tentar contemporizar e numa missão diplomática anunciou uma viagem pela América Latina – Brasil incluído – com o intuito de “forjar novos laços”. Ele tem planos ambiciosos. Falou em superação de resultados em infraestrutura, saúde, educação, defesa, etc. Propôs, adicionalmente, sacrifícios. Alguns na própria carne do Estado, para dar o exemplo. Advoga o congelamento, por cinco anos, de uma parcela dos gastos públicos, com a meta de gerar um caixa adicional de ao menos US$ 400 bilhões em uma década. Os EUA, que passaram por uma crise sistêmica e só agora começam o longo caminho de recuperação, ainda patinam. A parcela ociosa de seu parque industrial é considerável, com um nível de produção 5% abaixo da capacidade – o menor percentual em 80 anos. Obama, que tem o dom da palavra – como deixou claro durante as eleições –, voltou a usá-lo para motivar os americanos. E parece que conseguiu, sendo ovacionado de pé. Embora não tenha uma tarefa fácil nas mãos, disse o que os contribuintes queriam ouvir. Partiu para algo como “Os 12 trabalhos de Hércules”. Difícil será cumprir todos a contento.