chamada.jpg
NO BRASIL
A classe média adotou os tradicionais,
como a atriz Fernanda Lima que deu a seus gêmeos
os nomes de João e Francisco

Mesmo sem perceber, ao escolher o nome dos filhos, os pais seguem alguns padrões. Geralmente optam por alcunhas tradicionais e homenageiam avós e outros parentes. Ou elegem personagens religiosos, santos e bíblicos, os quais admiram a trajetória. Também é comum se deixar levar pelo encantamento por alguma personalidade fictícia, herói da literatura ou mocinha de novela. Mas a escolha de um nome é muito mais do que gosto pessoal. O modo como as famílias de um determinado país batizam seus filhos pode dizer muito sobre uma sociedade – se ela é mais conservadora, individualista ou religiosa, por exemplo. Normalmente, os rankings de nomes mais adotados por uma determinada localidade têm um pouco de cada um desses componentes, com uma ligeira inclinação para um deles.

No Brasil não é diferente. Segundo levantamento do site americano BabyCenterBrasil, a partir do cadastro de 43.800 bebês brasileiros, em 2010, ano de Copa do Mundo, eleições presidenciais e novela de sucesso no Brasil, Júlio César, goleiro da Seleção Brasileira, Marina, candidata do Partido Verde à Presidência, e personagens do folhetim global “Viver a Vida” se tornaram os hits do momento. Além disso, a mesma pesquisa revelou que os pais de crianças nascidas em 2010 no País parecem ter se influenciado (pasmem!) por crimes de repercussão. Coincidência ou não, em 2010, ano marcado pelo desaparecimento da dançarina Eliza Samudio, o nome Elisa (com s ou z) foi o que mais subiu no ranking. Disparou do 95º lugar, que ocupava em 2009, para o 63°, em 2010. Eliza teria sido morta a mando do ex-namorado, o goleiro Bruno. Eloá, a adolescente sequestrada e assassinada pelo namorado em 2008, subiu quatro posições no ranking de 2009 para 2010. E Isabella, que já era popular em 2009, continuou no mesmo terceiro lugar da lista do site em 2010, apesar da morte trágica da menina Isabella Nardoni. Aos 5 anos, a garota foi morta pelo pai e pela madrasta, que no ano passado foram condenados pela Justiça.

img.jpg

A influência pode ser mórbida. Mas, segundo estudiosos, tem explicação. “Até mesmo em casos como esses, as pessoas se influenciam pela mídia”, analisa a sociolinguista Stella Maris Bortoni, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB). “Os nomes ficaram martelando por muito tempo. Além disso, eram moças bonitas e inocentes, que encantaram as pessoas.” Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a linguista Valeuska Cury Martins acredita na identificação dos pais com a dor dos familiares das vítimas. “As pessoas se sensibilizaram, sofreram junto e, quando veem, estão dando o nome às filhas.”

Outra tendência que se observa no Brasil é a recente popularidade de nomes tradicionais nas classes mais privilegiadas. As celebridades são o termômetro. Entre elas, os atores Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert batizaram seus gêmeos de 2 anos de João e Francisco. Até a última década, no entanto, esses nomes eram típicos de classes menos favorecidas, garantem os estudiosos. “Nos últimos dez anos, a classe baixa começou a adotar os mais sofisticados, com sonoridade estrangeira, como Jennifer”, diz Stella. “Dessa forma, para se diferenciar, as classes mais altas voltaram a valorizar os tradicionais.” Segundo Stella, a alternância é cíclica. “É como se nenhum rico quisesse ter nome de pobre, mas todo pobre sonhasse ter nome de rico”, diz.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Geralmente, os tradicionais têm raiz religiosa. E, se depender do papa Bento XVI, a presença deles só deve aumentar. Em 8 de janeiro, o pontífice recomendou aos cristãos optar por alcunhas religiosas ao batizar os rebentos. “Cada criança adquire o caráter de filho de Deus a partir de seu nome cristão”, disse ele. Na ocasião, o papa sugeriu batizar os filhos com nomes inclusos no Matirológio (catálogo de santos e beatos que inclui 6.538 nomes). O pedido soou desnecessário, especialmente em países europeus marcados pelo catolicismo, onde os homônimos de santos já dominam os cartórios. Na Espanha, para se ter ideia, todos os netos mais novos do rei Juan Carlos têm nomes tradicionais de santos: Juan, 11 anos, Pablo, 10, Miguel, 8, Irene, 5, e Sofia, 3. Na Itália, a situação é parecida. De acordo com registros italianos, os mais corriqueiros são Giulia e Francesco.

Nos Estados Unidos, a tendência é escolher os únicos. Segundo estudo da Universidade do Estado de São Diego com 325 milhões de bebês nascidos no país de 1880 a 2007, atualmente os americanos preferem os diferentes, como Apple. Em 1955, um terço dos meninos e um quarto das meninas receberam um dos dez nomes considerados mais comuns. Em 2007, a porcentagem caiu para 10% no caso dos meninos e 8,3% no caso das meninas. “Os pais costumavam dar aos filhos nomes simples, como João e Maria, porque são fáceis de entender”, diz o psicólogo e coautor do estudo “Epidemia do Narcisismo”, de Jean Twenge. “Hoje, eles dão os diferentes, para que eles cresçam e se tornem estrelas.” Mais americano, impossível.

img1.jpg

 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias